Eu o conheci cinco anos atrás. Naquela época ele também morava aqui no Brooklyn. Hoje ele vive no exílio, em sua Paris natal. Já naquela época, o fotógrafo Eric Baudelaire se equilibrava na ponte aérea Nova Iorque-Pirlimpimpim. Mas não vamos misturar lé com cré. Meu amigo Ricola não leu Monteiro Lobato, mas devorou Kafka a ponto de se inspirar em seus castelos invisíveis para criar, jutamente com seu amigo de infancia, o professor do Kings College Dov Lynch, o fantástico projeto “Imagined States”, que em setembro vira exposição e livro de luxo para inglês e francês verem.
Neste fim de semana escrevi para o Valor Econômico uma reportagem sobre o tema central do projeto artístico e político da dupla – os países do chamado “Quarto Mundo”, que, embora tenham proclamado sua independência, possuam poderes executivos respeitados por milhares de almas, não são reconhecidos pela comunidade internacional. Vivem num limbo estranhíssimo, ‘como se estivessem ao mesmo tempo no século XIX e no XXI’, nas palavras de Lynch, cientista político e consultor da Comunidade Européia.
Eles são a Transnístria e a Abcázia, Nagorno-Karabakh e Ossétia Meridional, todos na região entre o Mar Negro e o Mar Cáspio, parte esquecida do mundo desde o colapso da União Soviética, que por quase um século dominou a região. Mas também entram na definição dos ‘estados de fato’ – mas não ‘de direito’ – a Chechênia e Taiwan, a Somalilândia, na África, e o Tibet, o Curdistão, que existe nos corações de milhares de curdos espalhados pelo Iraque, Irã, Síria e Turquia. Sem esquecer de Sealand, uma ilhota, antiga fortaleza militar britanica na Segunda Guerra Mundial, que proclamou sua independência em 1967. Lá vive o cidadão britânico Paddy Roy Bates e sua mulher, a Princesa Joan. O Príncipe Roy cunhou sua própria moeda, passaporte e até um lema nacional (“Do Mar, Liberdade!”).
Quem quer conhecer mais as histórias incríveis dos países do “Quarto Mundo” pode ler a reportagem nas bancas no Valor deste fim de semana (um trecho está online em www.valor.com.br) ou correr para o belíssimo site de Baudelaire – http://anthropic.net/eric/ - em que se pode observar algumas de suas fotografias tiradas na região do Cáspio. Inspirada no projeto, a BBC acaba de passar na Inglaterra e na Espanha a série “Lugares Que Não Existem”.
Um dos programas mais chocantes é o que mostra jovens e velhos da Transnístria – área ocupada pela minoria eslava (russa e ucraniana) da Moldávia, por sua vez parte da Romênia – dizendo que não desejavam o fim da União Soviética, têm horror ao McDonald’s e ao Starbucks e que, definitivamente, não querem se tornar um estado à imagem e semelhança das democracias ocidentais. No mínimo, intrigante.
sábado, julho 02, 2005
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