quinta-feira, julho 07, 2005
Diretinho da Redação (21)
O texto abaixo pode ser conferido ainda no www.diretodaredacao.com
Política é showbusiness. E showbusiness feito por gente feia. Política é, em última instância, uma Hollywood sem gatinhas e gatões. Quem disse isso, neste fim de semana, pensando em Washington, foi o senador Chuck Hagel, de Nebraska, herói da Guerra do Vietnã e um forte presidenciável do Partido Republicano para a sucessão de Bush II. Brasília está para esta definição como a Globofilme para a Miramax. Basta acompanhar as sessões das CPIs instaladas no Congresso Nacional. Deputados e senadores brigam por uma fala tal qual figurantes de “Malhação”. E na era dos reality shows, a imprensa, afoita, quer saber quem será o eliminado da semana: Dirceu, Delúbio, Silvinho, Gushiken, Genoíno?
Data venia, para os espectadores não há diferença alguma. É tudo farinha do mesmo saco, diz Dona Maria. Político é tudo igual, retruca Seu José. A novela que Dona Marocas acompanha está repleta de vilões assustadores interpretando, com maior ou menor canastrice, variações de um triste papel – aquele em que ‘gente rica fala em nome de gente pobre tentando assegurar votos para que continue ganhando dinheiro no próximo quatriênio’.
Pois é. Há dinheiro. E muito. Assim como se discute abertamente quantos doláres Julia Roberts está levando a mais do que Nicole Kidman por filme, roem-se unhas e gastam-se calculadoras para saber quanto um deputado – através de nomeações, mesadas e otras cositas más – leva para casa a cada fim de mês.
Durante as eleições presidencais do ano passado, meu amigo Donald se mostrou intrigado com o interesse da imprensa internacional em explorar as diferenças entre Bush II e John Kerry. Por que eles não entendem que o que importava eram as semelhanças? Os dois eram fruto de um mesmo sistema que permite apenas a milionários e filhos da chamada Ivy League – a elite norte-americana que estuda nas melhores e caríssimas universidades do país – a prerrogativa de comandar o governo dos Estados Unidos. Certamente, me dizia, não é assim no Brasil, em que um operário pode ser eleito para o cargo máximo do país.
É justamente este o nó mais complicado das democracias ocidentais e que precisa ser encarado de frente por todos nós: o sistema de representação política naufragou. Faliu. Lobbies, campanhas publicitárias calculadas em dólares, empréstimos milionários dados a partidos políticos avalizados por publicitáros produzem a natural sensação do ‘é tudo igual mesmo’, recordes de abstenção em eleições parlamentares e a certeza de que, no fim das contas, aqueles políticos do reality show do Congresso não representam os vários estratos da sociedade civil. Sejam eles Jeffersons ou Dirceus. O raciocínio da Dona Maria, mesmo com o operário no Alvorada, faz cada vez mais sentido.
Esta semana, Lula voltou a bater na tecla de que vai punir severamente aqueles que enriqueceram se aproveitando do dinheiro público. Para o bem de todos e felicidade geral da nação já é hora de o presidente perceber que o buraco é mais embaixo. Nem nas cifras nem na tática envolvida – a compra de políticos a peso de ouro através da institucionalização de uma mesada – a crise em Brasília é mais do que apenas um caso de políticos se apropriando do leite das crianças.
Como bem tem dito o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), a mera insinuação do ‘mensalão’ já é um crime de honra contra a democracia tal qual a conhecemos. E os indícios, diariamente, vêm se transformado em fatos tenebrosos. Não é a hora de se pensar em reforma política de fato? Uma que não esteja centrada na exclusão dos pequenos partidos do Congresso – jogando no ‘mesmo saco da Dona Maria’ um PL e um PcdoB, um PTB e um PSOL – mas que reafirme a importância e a necessidade da democracia representativa? Ou será que Dona Maria, já com os dois pés fora da sala de cinema, frustrada por não conseguir encontrar um mocinho sequer no showbusiness da política brasileira, está mesmo repleta de razão?
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