quinta-feira, junho 16, 2005

Mais Massacre de Volta Redonda - 1988

O amigo Cristiano Beraldo, colega de classe naquele 1988, lembra outros detalhes do massacre de Volta Redonda, que ele me autorizou a publicar abaixo:

Lendo a coluna, lembrei dessa história como se fosse ontem... e já se passaram 17 anos.
Tinha acabado de subir, junto com a minha mãe, do curso de inglês que fazia na época, o CCAA, na Vila Sta. Cecília. Mais cedo, da janela do curso, presenciei dezenas de carros da PM e do Exército chegando em Volta Redonda.


Pelo que minha mãe conta, meu pai, que também estava dentro da CSN mantendo-a funcionando, tinha ligado para ela e pedido para me buscar porque o clima estava ficando perigoso na cidade. Chegando em casa, ouvi uns estouros e cheguei na janela para ver o que era. Como tinha uma posição privilegiada, morando no bairro Bela Vista, consegui ver o início da confusão, quando o exército atacou a multidão com bombas de gás e tiros para o alto.

A princípio imaginei que os tiros fossem de festim, mas logo percebi que não eram, quando comecei a ver as balas traçantes passando próximas da janela da minha casa. Dava para ver e ouvir o zumbido delas. Logo, várias pessoas se aglomeraram na grade do Laboratório de Pesquisa da CSN, que fica localizado entre o Bela Vista e o Conforto, para ver o que estava acontecendo. E foi essa confusão durante o resto da noite e madrugada.

Pessoas sendo espancadas, carros quebrados e furtados, e outros barbaridades mais. O pior foi quando, em determinado momento, os carros do Exército começaram a entrar na usina. Foi quando começamos a ouvir os tiros ecoando lá de dentro, por toda a noite. Foi uma madrugada de apreensão e preocupação com as pessoas que estavam lá dentro, entre elas o meu pai e o seu.

Ainda teve outro capítulo dessa história no Primeiro de Maio do ano seguinte, com a bomba jogada pelo Comando de Caça aos Comunistas no monumento projetado por Niemeyer aos três operários mortos.

Foi uma época complicada...

Um abraço, cara, foi legal ter lembrado disso tudo...

Cristiano Beraldo

3 comentários:

Anônimo disse...

Ainda lembrei que no dia seguinte, quando meu pai, finalmente, conseguiu sair da usina, o que ele viu foi uma cena chocante... O chão de um dos pátios da usina estava forrado de cápsulas vazias de fuzil.
Eu ainda guardo uma dessas cápsulas de lembrança...

Eduardo Graca disse...

Uau! Saudades de seu pai.
Edu

Anônimo disse...

saudades daquele tempo em que íamos animados e indignados aos comícios na vila, no meio da galera da cut e do pt, e um belo dia ainda tivemos a grata surpresa de vermos discursando um belo Prestes, idoso, mas ainda com sua jovem ideologia!... bela inspiração, q fica pra sempre...
bjs, paula