quarta-feira, março 09, 2005

Diretinho da Redação (7)



Coluna publicada hoje no Direto da Redação. Ta lá em www.diretodaredacao.com.


Entre a Morena do Chico e o Mico do Papa eu fico é com a Marinilda

Qual é o problema com a morena do Chico? Aparentemente a troca de carícias do casal na Praia do Leblon levou a imprensa brasileira a discutir temas relevantes semana passada como censura à imprensa, a relação promíscua de artistas com editores-chefes de jornais diários, a qualidade da informação do jornalismo brasileiro e até as virtudes e defeitos do casamento aberto. Falta de notícia? Calor demais? Calma, gente.

Aqui enfrentamos o inverno mais branco das últimas seis décadas. Neva pacas. Não tem calor, não tem praia, não tem Rio, não tem Leblon, não tem morena, não tem Chico. Mas tem Papa. Na semana passada, enquanto a Veja se dizia preocupada com a qualidade da informação recebida pelos leitores de O Globo, o New York Press demitia seu editor, Jeff Koyen, por conta de uma página inteira dedicada ao deboche do estado de saúde do Papa João Paulo II.

Aonde é que o NY Press, uma publicação semanal de distribuição gratuita especializada no - seja lá o que isso for - "jornalismo conservador alternativo" se encaixa, com todo o respeito, na morena do Chico e no chilique da Veja? Juro que não é o frio que me faz misturar alhos com bagulhos.

Ora, jornalismo marrom de direita não é exclusividade do NY Press, mas eles têm se excedido. No texto em questão, o virulento Matt Taibbi anunciava as 52 Coisas Mais Engraçadas Sobre a Cada Vez Mais Próxima Morte do Papa. Ilustrada com uma foto do Pontífice de mãos dadas com o comandante Fidel Castro, a matéria trazia, entre as tais 'coisas mais engraçadas', pérolas como imaginárias mensagens oficiais da Casa Branca. Primeiro, o presidente Bush, ao saber que o Papa está em coma: "Nossos pensamentos e preces estão agora com este grande homem e toda sua imensa prole". Em seguida, ao saber da morte do Santo Padre, a Casa Branca solta nova nota do Presidente: "O Papa nos tocou a todos em lugares que jamais poderíamos alcançar sozinhos". E por aí vai.

A gracinha irritou democratas e republicanos, católicos e ateus, e a direção do NY Press anunciou um basta. Deu um chega para lá em Taibbi e suspendeu o editor-chefe do jornal. Jeff Koyen preferiu se demitir, mas saiu proclamando-se um opositor da censura e de temas tabus. Insinuou que os donos e editores-chefes de jornalões norte-americanos são íntimos da cúpula da Igreja Católica e perguntou por que é que, afinal, não se pode brincar com o Papa?

Francisco Buarque de Hollanda, apesar da divertida campanha comandada pelo jornalista Ancelmo Góis, ainda não foi canonizado. A Folha de S.Paulo avisa que não encontrou na figura pública exemplar do irmão da Miúcha, e sim nos dois filhos pequenos da morena do Chico, o motivo principal da recusa em se publicar a foto do paparazzi. A Veja retruca, lembrando que este não foi o critério dos jornais ao tratarem da fofocada referente ao casamento de Ronaldinho e Cicarelli, lá na mesma Paris onde a revista agora quer exilar o autor do Samba de Orly.

Aqui do frio branco do Brooklyn, sem praia, sem morena, sem Chico e sem Leblon, fico mesmo é com a Marinilda Carvalho, que, lá no Observatório da Imprensa(http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/), dispara, hoje mesmo: "Estranha a crítica da Veja a quem deixou de cobrir o affair de Chico Buarque na praia. Segundo a revista, Ronaldinho não foi poupado em seu casamento, portanto não havia por que poupar o Chico. Mas não seria o caso de a revista condenar quem caçou notícia a qualquer preço no tal casamento? Quer dizer que o negócio é nivelar por baixo?".

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