segunda-feira, janeiro 24, 2005

Colorado de Ódio

Revólver em casa

Quem nunca viu um bom filme de bangue-bangue passado no Velho Oeste pode até se espantar. Já explico. Passei uma semana fora de Nova Iorque, zanzando em Denver e Bolder, nas cercanias de Aspen, no estado do Colorado, no oeste americano. Lá, George Bush venceu as eleições presidenciais de 2004 com 52% dos votos válidos. Lá, presenciei uma conversa animada entre duas senhorinhas da classe média sobre a necessidade de se manter em casa uma arma de fogo. As duas não vêem a hora de ir à loja mais próxima e escolher o modelo mais eficiente.

Bandoleiros de Colfax Avenue

Não adianta lembrar às duas louras – sim, as senhorinhas são, ou estão, perdoem-me a falha na apuração, amarelíssimas - que há muito desapareceram na areia do deserto as legendas de Jim Miller e Billy The Kid. O perigo, as senhorinhas me avisam, mora cada vez mais ao lado. São, é claro, os imigrantes. Não os asiáticos, “uma força de trabalho muito bem-vinda à nossa comunidade”, que além de tudo, me aponta uma delas, são “limpinhos”. O novo fora-da-lei do Oeste americano é hispânico, muito provavelmente mexicano, amontoado nas cercanias de Colfax Avenue, uma espécie de Praça Mauá de Denver, iluminada por decadentes casas-de-fama-suspeita durante a noite e mais comportada à luz dia, quando ostenta um pujante comércio-do-bom-e-do-barato.

Efeito Colateral

As senhorinhas não acreditam em números. Elas dão de ombros para os estudos que mostram a altamente treinada polícia estadual como uma das campeãs no abate de inocentes ao caçar bandidos pelas tardes coloradas. Com um sorriso de canto de boca, as senhorinhas deixam escapar que é preciso entender estes equívocos como “efeito colateral”. Igualzinho aos iraquianos mortos naquele distante país do Golfo Pérsico. Efeito colateral, me dizem, na lata.

O Rio era lá

Uma merda a América Profunda? Vai ver alguém me explica em bom e claro português por que cargas d`água saí de Denver com a sensação de que tinha batido um dedo de prosa, azar o meu, com duas patricinhas de Ipanema. Experimenta voltar no texto e trocar ‘hispânico’ por ‘favelado’, ‘mexicano’ por ‘mulatinho’, ‘asiático’ por ‘empregada doméstica’ e ‘efeito colateral’ pelo quê mesmo?





Um comentário:

maria rezende disse...

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