terça-feira, novembro 04, 2008

É HOJE O DIA!

Um mês de férias, praia, amigos, família, Rio. E o blog ficou às moscas. Voltei no sábado e hoje saíram duas materinhas minhas na imprensa brazuca. Vou postar primeiro a mais pessoal, e, aqui no blog, vai com nomes e sobrenomes que todo mundo é de casa, né? Foi para o Terra Online, um texto na primeira-pessoa sobre a manhã deste blogueiro, passada em um colégio público onde Will votou em Obama para presidente. Será que a gente ganha hoje?

Ó como foi:

Clima de votação é radicalmente diverso do de 2004

EDUARDO GRAÇA
DIRETO DE NOVA YORK


Hoje é um dia especial aqui em Nova York. Céu azul, temperatura decente para esta época do ano (17ºC), perfeita para acordar cedo e votar na escola pública da Henry Street, uma caminhada de 10 minutos de casa, localizada perto da ponte do Brooklyn. Esta é a segunda vez que acompanho o Will, em uma votação presidencial, e o clima foi completamente diferente ao da calmaria de 2004.


Há quatro anos, acompanhei o voto a John Kerry, em uma outra escola, às moscas, na zona norte do Brooklyn. Não havia nem filas nem qualquer emoção a mais. Tratava-se mais de um voto contra Bush do que a favor do senador de Massachussetts, uma espécie de Geraldo Alckmin de Boston, sem muito carisma.


Desta vez, as filas eram grandes. Aqui, nos EUA, só vota quem quer, e este ano, mesmo em um Estado como Nova York, onde os democratas ganham sempre de lavada, todos queriam participar do momento histórico - e os sorrisos e piadas eram constantes. Se havia algum eleitor de John McCain, na fila, ele não se manifestou.


Todos faziam questão de declarar em alto e bom som seu apoio a Obama e não escondiam que iam às urnas pensando na grande batalha desta terça à noite nos Estados que podem decidir o pleito: Flórida, Ohio, Virgínia, Missouri, Novo México, Colorado, Nevada, Carolina do Norte e Pensilvânia.
As pessoas votariam, iriam para o trabalho (não é feriado no país) e correriam para casa ou para bares que ficarão abertos a noite toda. Locais onde as TVs ficam ligadas para uma comemoração ou o início de mais quatro anos de luto.

Isso, na cidade que nunca dorme e não elege um presidente desde a reeleição de Bill Clinton em 1996.
As conversas na fila de votação se traduziriam para a realidade brasileira se toda uma zona eleitoral apoiasse o mesmo candidato presidencial, mas dependesse dos votos que de fato vão decidir quem comanda o país, que viriam dos eleitores de outros Estados, todos menores. Na fila da escola, tentei tirar uma foto, mas fui repreendido e tive de esconder a máquina.

Alguns pouco "felizardos", como o Will, tiveram de votar à mão mesmo, pois haviam transferido seu local de votação no último minuto e as urnas eletrônicas não poderiam incluir novos eleitores. Como não existe Justiça Eleitoral nos EUA, os votos destes cidadãos ficam pendentes na justiça comum até que eles enviem ao Correio uma explicação (preenchida na hora, à caneta) sobre o motivo da mudança do local de votação.

Tudo parece pouco ágil. Além de presidente, aqui em Nova York, se vota para o equivalente a deputado federal e estadual e ainda para vagas na Suprema Corte Estadual e na Justiça Local, aqui escolhidos pelo voto direto e disputados não apenas pelos Republicanos e Democratas, como também por partidos menores, como os Verdes, os Socialistas, os Trabalhadores e os Conservadores.

A cédula, gigantesca, me lembrou da primeira que vi, assim, ao vivo, em 1982, quando meu avô era prefeito de Barra do Piraí, no interior do Estado do Rio de Janeiro, e depois de 17 anos de bi-partidarismo, aprendíamos a votar em um pleito disputado por cinco partidos.
E achávamos confuso na época. Eu era uma criança, mas ele me levou para a urna, afim de me familiarizar com algo que para ele tinha uma tremenda importância - o exercício democrático. Por um segundo, acompanhar o voto no Brooklyn de 2008, sem juízes eleitorais, mesários, fiscais partidários ou urnas eletrônicas para todos, me lembrou da Barra do Piraí de 26 anos atrás.

O meu bairro, região emergente do distrito mais populoso de Nova York, com população negra diminuta, parecia refletir pouco o momento especial vivido pelos afro-americanos em todos os EUA.
Mas, na saída, me deparei com Mary, que atravessou o Brooklyn para votar aqui nos limites de Brooklyn Heights, "sei lá porque eles mudaram minha zona eleitoral para cá", disse buscando informações sobre a estação de metrô mais próxima afim de retornar para Bedford-Stuyvesant, uma das áreas de maiores populações de origem caribenha e africana da cidade. De gorro na cabeça, óculos de imensos aros negros, ela disse que para votar em Obama, para ver um negro como ela na Casa Branca, atravessaria feliz o país todo. Andar 40 minutos pelo Brooklyn era moleza, garantiu.

* Especial para o Terra

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