O texto:
Volta ao Mundo
Nova York
Em Lush Life, o romancista Richard Price desafina o coro dos que festejam Manhattan como um lugar seguro
Por Eduardo Graça, para a Bravo!
Recentemente, o roteirista e escritor Richard Price apareceu na revista Time assinando um manifesto com outros colegas. Alarmados pela revelação de que 1 em cada 100 norte-americanos está na cadeia, os manifestantes convocaram a população a protestar contra a existência de “duas Américas”, que só se esbarram nas páginas de crimes dos jornais. Ou em livros como Lush Life, que Price acaba de lançar e que ainda não tem data para chegar ao Brasil.
O olhar azedo sobre as últimas quatro décadas de vida nas grandes metrópoles dos EUA, quando a chamada “guerra às drogas” travestiu-se de “guerra aos pobres”, é o pano de fundo do romance. Lush Life (algo como Vida Opulenta) conta a história de Eric Cash, 35 anos, gerente de um café e escritor frustrado que mora na região de Manhattan conhecida por Lower East Side, onde “aos 30 anos você já parece ter 50”. Ele é suspeito de um crime que, aparentemente, não cometeu.
Ao deixar o batente às quatro da madrugada – acompanhado de um outro funcionário do café, Issac “Ike” Marcus, e de Steve, um amigo de “Ike”, que está completamente alcoolizado –, sofre um assalto por parte de dois jovens mal-encarados, possivelmente moradores de um dos muitos conjuntos habitacionais da ilha. “Ike” reage à abordagem com a frase “Hoje não, meu amigo” e acaba baleado. Morre no ato. Como ninguém mais viu os marginais, e uma das testemunhas estava sob o efeito do álcool, é preciso acreditar na palavra de Cash. Ou não.
A exatidão crua das falas de seus personagens e o pendor cinematográfico do livro levaram outro célebre romancista, Dennis Lehane, autor de Sobre Meninos e Lobos, a afirmar que, com Lush Life, Price se torna o escritor que melhor elaborou diálogos em toda a história da literatura norte-americana. Russell Banks, de Temporada de Caça e O Doce Amanhã, foi além. “Price”, escreveu, “é o nosso Balzac pós-moderno”. Exageros à parte, o que prende a atenção do leitor é a sensação de que o roteirista do filme A Cor do Dinheiro nos leva pela mão através dos labirintos de uma cidade escondida dentro da cidade. Ele atua como o cicerone de uma Manhattan sem brilho, a antítese da metrópole “seguríssima” proclamada pelos guias turísticos e pelos políticos. Um lugar ainda pulsante de vida subterrânea, desejos primários, cobiça e muita injustiça social.
Volta ao Mundo
Nova York
Em Lush Life, o romancista Richard Price desafina o coro dos que festejam Manhattan como um lugar seguro
Por Eduardo Graça, para a Bravo!
Recentemente, o roteirista e escritor Richard Price apareceu na revista Time assinando um manifesto com outros colegas. Alarmados pela revelação de que 1 em cada 100 norte-americanos está na cadeia, os manifestantes convocaram a população a protestar contra a existência de “duas Américas”, que só se esbarram nas páginas de crimes dos jornais. Ou em livros como Lush Life, que Price acaba de lançar e que ainda não tem data para chegar ao Brasil.
O olhar azedo sobre as últimas quatro décadas de vida nas grandes metrópoles dos EUA, quando a chamada “guerra às drogas” travestiu-se de “guerra aos pobres”, é o pano de fundo do romance. Lush Life (algo como Vida Opulenta) conta a história de Eric Cash, 35 anos, gerente de um café e escritor frustrado que mora na região de Manhattan conhecida por Lower East Side, onde “aos 30 anos você já parece ter 50”. Ele é suspeito de um crime que, aparentemente, não cometeu.
Ao deixar o batente às quatro da madrugada – acompanhado de um outro funcionário do café, Issac “Ike” Marcus, e de Steve, um amigo de “Ike”, que está completamente alcoolizado –, sofre um assalto por parte de dois jovens mal-encarados, possivelmente moradores de um dos muitos conjuntos habitacionais da ilha. “Ike” reage à abordagem com a frase “Hoje não, meu amigo” e acaba baleado. Morre no ato. Como ninguém mais viu os marginais, e uma das testemunhas estava sob o efeito do álcool, é preciso acreditar na palavra de Cash. Ou não.
A exatidão crua das falas de seus personagens e o pendor cinematográfico do livro levaram outro célebre romancista, Dennis Lehane, autor de Sobre Meninos e Lobos, a afirmar que, com Lush Life, Price se torna o escritor que melhor elaborou diálogos em toda a história da literatura norte-americana. Russell Banks, de Temporada de Caça e O Doce Amanhã, foi além. “Price”, escreveu, “é o nosso Balzac pós-moderno”. Exageros à parte, o que prende a atenção do leitor é a sensação de que o roteirista do filme A Cor do Dinheiro nos leva pela mão através dos labirintos de uma cidade escondida dentro da cidade. Ele atua como o cicerone de uma Manhattan sem brilho, a antítese da metrópole “seguríssima” proclamada pelos guias turísticos e pelos políticos. Um lugar ainda pulsante de vida subterrânea, desejos primários, cobiça e muita injustiça social.
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