sexta-feira, maio 11, 2007

ENTREVISTA/Anthony Hopkins & Ryan Gosling


A Contigo! publicou na edição desta semana minha conversa com Anthony Hopkins e Ryan Gosling na sala de imprensa do Hotel Four Seasons, em Los Angeles, a propósito do lançamento de Um Crime de Mestre, o thriller estrelado pelos dois que entra em cartaz esta semana no rasil. A entrevista em dose dupla, na íntegra, segue abaixo:

Anthony Hopkins e Ryan Gosling
Papo franco entre mestre e discípulo
Por Eduardo Graça, de Los Angeles

Em Um Crime de Mestre, que estréia hoje nos cinemas brasileiros, Ryan Gosling, 26, vive o ambicioso procurador de Justiça Willy Beachum, que se vê enredado no estranho assassinato da jovem mulher do famoso cientista Ted Crawford, vivido por Anthony Hopkins, 69. A princípio trata-se de um caso banal, já que Crawford estava no local do crime e armado. Mas como nada é o que parece ser neste thriller passado em Los Angeles, Will acaba preso em um labirinto de traições, jogos políticos e infidelidade justamente no momento em que tudo dava certo em sua carreira. Aliás, lidar com o sucesso repentino não é algo desconhecido pelo jovem canadense, indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante no ano passado por sua arrebatadora performance em Half Nelson, ainda inédito no Brasil.

Em Um Crime de Mestre ele divide a tela com Sir Anthony Hopkins, 69, que vive mais um daqueles vilões tão temidos quanto charmosos. A Contigo! acompanhou a conversa dos dois na sala de imprensa de um famoso hotel de Beverly Hills. Hopkins chegou elegante, com um terno bege, enquanto Ryan parecia mais à vontade com uma camisa de gola branca largada sob um suéter azul-marinho. Mas nem deu muito tempo para admirar a moda dos atores, pois o eterno Hannibal Lecter já começou o bate-papo com o característico sorriso de lado e os olhos bem cerrados, como que para degustar melhor a graça do que está prestes a revelar.

Anthony Hopkins:
Estou rindo porque esta reação do ‘lá vem ele fazendo mais um vilão’ é muito engraçada para mim. Este é apenas o segundo vilão que eu faço nas telas! Fiz o Hannibal Lecter (tá bom, três vezes) e agora o Ted, e pronto. E fiz milhares de outros tipos em minha carreira. Agora, adoro fazer um thriller como este, é como se estivesse jogando xadrez com o personagem do Ryan. Aliás, foi numa cena, quando ele está me interrogando na cadeia pela primeira vez, que percebi uma certa semelhança com o Hannibal. Foi quando Ryan me diz que aquilo ali é sério, que não é uma brincadeira. E eu respondo imediatamente – mas acho que você vai ter de brincar comigo, sim senhor! De um jeito que o Hannibal faria.

Ryan Gosling:
Vai ver que é por isso que me perguntam tanto se eu tive medo de trabalhar com você (risos). Olha, é praticamente impossível não se encantar pelo Anthony depois de passar dias com ele em um set de filmagem. Na verdade teve algo bem complicado no início, pois era difícil para mim focar apenas em meu personagem. Eu queria passar o tempo todo vendo o Anthony atuar, sabe, anotando cada detalhe?(risos). E quando a gente divide a cena, aí então é que eu tinha de me conter para não ficar assim, ó (abre bem os olhos), o tempo todo. E, claro, no filme o Willy detesta o Ted, e eu tive de me esforçar muito para não passar na tela, de alguma maneira, minha profunda admiração pelo Anthony.

Anthony Hopkins:
Xi, depois dessa rasgação de seda toda, tenho de ir para casa agora, né? (risos). Mas, então, vou contar algo sobre mim que muita gente não sabe: ao contrário do Ryan, eu detesto ensaiar. De-tes-to! Se você quer me desanimar é só aparecer com uma mesa de ensaio e dizer que vamos começar uma leitura em conjunto do roteiro. É muito chato! Depois de vinte minutos eu não agüento mais (risos). Cinema é o oposto disso. É ação. É o resultado do momento. Quando fomos filmar Titus em Roma a diretora Julie Taymor queria que ensaiássemos por duas semanas. Qual o quê, em quatro dias eu já havia partido para casa. Ah, não! (risos).

Ryan Gosling:
Ouvindo esta história vai parecer que você é difícil. Mas não é mesmo! Preciso confessar que quando soube que iríamos dividir o set pensei: ai meu Deus, ele vai ser intenso, Sir Hopkins e tal. Que nada! Você é divertidíssimo, conta piadas o tempo todo, mas o que me chamou mais a atenção é que você está sempre fazendo alguma coisa. Eu me lembro de uma pausa de cinco minutos que tivemos em um dia de filmagem e fui ver o que você estava tramando em seu trailer (risos). E você estava com as mãos todas sujas de tinta. Você tinha usado o seu tempo para pintar! (risos)

Hopkins:
Olha, o que quero dizer é que dar uma de inteligente o tempo todo carrega um risco enorme, que é o destruir sua humanidade. E isso, para um ator, é um perigo. Agora, você é bem mais meticuloso do que eu. Ou vai ver estou ficando velho, mesmo! (risos). A primeira vez que vi você no cinema foi em The Notebook. Fiquei deslumbrado, gostei muito. E o interessante é que você pensa no filme de um modo total. Sabe que o Ryan mudou o fim de Um Crime de Mestre? A cena final era um tanto quanto espetaculosa e, depois de audiências selecionadas chiarem, começamos a pensar que deveríamos fazer algo mais simples. Foi o Ryan quem encontrou a peça final do quebra-cabeças, que obviamente não vou revelar aqui, e tivemos de refazer o fim. E eu, que estava de férias, tive de voltar para Los Angeles apenas para gravar a última cena!(risso). Mas, tudo bem, o resultado ficou muito melhor. E dei os parabéns a ele, que tem uma mente analítica que o ajuda muito na hora de atuar. Aliás, vê-se isso em Half Nelson, um senhor filme.

Gosling:
É engraçado, sabe que por conta da indicação ao Oscar todos perguntam se minha carreira mudou? E só fui reconhecer a importância através da minha família. Nossa, eles ficaram tão orgulhosos de mim, eles celebraram tanto! De uma certa maneira, o mais interessante da indicação foi ter podido dividir de uma forma tão real a minha paixão pela minha profissão com eles. Quero muito apresentá-los a você, Anthony!

Hopkins:
Vai ser um enorme prazer!




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