quarta-feira, novembro 08, 2006

Diretinho da Redação (49)


Acaba de entrar no DR a coluna da semana, sobre a vitória dos democratas e a nova divisão de poder no Congresso norte-americano.

MUDANÇA DE ARES NOS EUA


Eduardo Graça


Foi uma noite e tanto. Depois de uma mobilização impressionante, com militantes batendo de casa em casa e carregando eleitores pelas mãos até os postos de votação, os democratas conquistaram uma vitória substanciosa nas eleições de ontem para o Congresso e o governo de boa parte dos estados da federação. A derrota de George Bush era esperada mas os resultados revelaram mais do que o cansaço dos americanos com a lambança da ocupação do Iraque, cujo epílogo foi a renúncia do secretario da Defesa, Donald Rumsfield. Mais da metade dos raivosos eleitores disseram que votariam contra a cultura da corrupção, dominante em Washington, ecoando a histórica capa da revista Rolling Stone, que na semana passava apontou sem dó os ‘dez piores congressistas da pior legislatura da história da república’. Nove eram republicanos _ dois deles ficaram sem mandato.

As conquistas da oposição não foram poucas. Pela primeira vez um candidato socialista foi eleito para o senado (no estado mais gauche do país, Vermont). Sob o controle dos republicanos há uma década, Massachusetts mudou de lado com gosto: elegeu por larga margem o democrata Deval Patrick, o segundo negro a comandar um estado do país desde que os afro-americanos conquistaram no braço o direito de ir às urnas na chamada Reconstrução dos anos 60. A Câmara dos Representantes contará com a primeira mulher em seu comando desde a independência, a liberal Nancy Pelosi, de São Francisco. E em Nova Iorque a lavada da oposição incluiu vitórias na casa dos 70% para a senadora Hillary Clinton e o novo governador Elliott Sptizer, que encerrou 12 anos de domínio conservador em Albany, tornando-se uma liderança importante a ser considerada no xadrez político de 2008.

Mas a vitória dos democratas, comemorada pelos militantes ao som de Start me up, dos Rolling Stones, não se traduz em um avanço da agenda progressista nos EUA. Pelo contrário. O nordeste do país, é fato, ficou mais democrata, exatamente como o sul ficara ostensivamente republicano em 1994 (e assim permanece). Os novos democratas são, em sua esmagadora maioria, social-conservadores, gente como o xerife Brad Ellseworth de Indiana e o fazendeiro Jon Tester, senador de Montana, ferrenho defensor do direto de os cidadãos portarem armas. Ou o virtual senador eleito em Virgínia, Jim Webb, que serviu no primeiro escalão do governo Reagan. Todos são contrários ao casamento entre homossexuais e ao direito ao aborto, e favoráveis a uma retirada lenta e gradual do Iraque. Darão uma nova face ao partido do senador negro de Illinois, Barack Obama, um dos nomes cotados para a sucessão de Bush.

O que se aprende da aventura eleitoral de 2006 é que os republicanos foram tanto para a direita que os independentes – gente que não se identifica com nenhum dos dois partidos dominantes no cenário político do país – votaram em bloco, de maneira inédita, com os democratas. Se a aliança conservadora criada por Reagan na segunda metade dos anos 70 era calcada na moral e nos bons costumes, as hostes de Clinton, Obama e Pelosi acenam com um outro grande consenso, aparentemente mais sofisticado, pavimentado pela defesa da ética. Resta saber se os democratas, de volta, de modo triunfal, ao comando do Congresso, seguirão com as mãos limpas até a grande batalha de 2008.

Um comentário:

Anônimo disse...

Foi uma verdadeira porrada no Bush....