terça-feira, maio 02, 2006

NY TIMES/ EDITORIAL

O jornalão de Nova Iorque publicou hoje um corajoso editorial sobre o Dia Sem Imigrantes. A tradução é do blogueiro.


Eles São A América



O boicote dos imigrantes não afetou drasticamente a economia americana. Ela sobreviveu. Mas o que não pode sobreviver - ao menos assim esperamos - é a maneira equivocada com que os norte-americanos ainda vêem o movimento dos direitos civis dos imigrantes.

O que há de pior entre nossos cidadãos e políticos está ávido por rebaixar imigrantes ilegais à categoria de criminosos, terroristas em potencial e invasores forasteiros. Mas o que nós vimos ontem nas imensas e pacíficas manifestações em Los Angeles, Las Vegas, Chicago, Denver, Nova Iorque, Atlanta e muitas outras cidades, foram indivíduos comuns, gente simples, o mesmo povo pronto para a 'assimilação' que nós tanto romantizamos em feriados nacionais como o Dia de São Patrício ou Cristóvão Colombo.

Se estes eventos extraordinários de ontem foram um protesto contra alguma coisa, foi em oposição à idéia de que o imigrante é um trabalhador temporário, de segunda classe. As marchas de ontem foram um tapa na cara na teoria de que os sem-documento querem nada mais do que trabalhar sem serem notados, cuidadosamente segregados da nação que os emprega para preparar suas refeições, cortar suas gramas e temperar sua carne nos frigoríficos país afora.

Estes imigrantes, cansados de uma servidão silenciosa, estão saindo das sombras e pedindo algo extremamente simples: uma chance de se transformarem em trabalhadores-cidadãos, com todos os deveres e oportunidades que o novo status prevê.

Nossos legisladores, para seu descrédito, têm criado barreiras, armadilhas legais e obstáculos burocráticos, e acenado com a pífia oportunidade de transformar os imigrantes em trabalhadores-convidados, sem qualquer direito de cidadania. Nada mais do que um convite para o estabelecimento de uma subclasse desprovida de qualquer possibilidade de ascensão social ou econômica. Trata-se de um caminho claro para o estabelecimento de uma idéia diferente - e menos nobre - do que são os EUA e nós mesmos, os norte-americanos.

Não são apenas os vigilantes do Minutemen, obcecados com a fortificação da fronteira com o México, que deveriam se envergonhar depois das alegres celebrações que testemunhamos ontem. Legisladores que vêm dificultando uma reforma compreensiva de nosso sistema de imigração a partir de um frio cálculo eleitoral precisam ouvir o que as ruas estão dizendo.

Uma silenciosa, oprimida população agora fala com uma só voz. A mensagem, dirigida a Washington, mas que todo o país deveria escutar, é clara: Nós Somos a América. Nós queremos nos juntar a vocês.

É uma mensagem simples. E que já deveria ter sido absorvida por nós tempos atrás.

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