A Folha de S.Paulo, publicou, na Ilustrada, meu texto a partir da conversa que tive com o diretor e o elenco do segundo longa-metragem originado pela série Arquivo X, que chega hoje aos cinemas brasileiros. Ó só:
CINEMA
Para diretor, o que era ficção na série hoje é ciência
De acordo com Chris Carter, "Arquivo X" antecipou discussão de temas como clonagem de seres humanos
Para roteirista, série "virou um gênero próprio", com ficção científica, teorias da conspiração e conflito entre o sobrenatural e o ceticismo
EDUARDO GRAÇA*
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES
Há 15 anos, ninguém se preocupava com as andanças de Jack Shephard ou com as pesquisas genéticas conduzidas por Mohinder Suresh, mas alguém duvida de que J.J. Abrams e Tim Kring, os criadores de "Lost" e "Heroes", estavam com o olho grudado na TV acompanhando as andanças de Fox Mulder e Danna Scully? Pois, após uma década exata de jejum -desde "Arquivo X - O Filme"-, David Duchovny e Gillian Anderson voltam a encarnar seus personagens mais famosos em "Arquivo X - Eu Quero Acreditar". "É difícil dizer, depois de tanto tempo, que séries influenciamos e de que maneira. Mas "Arquivo X" virou um gênero próprio, em que cabe ficção científica, teorias da conspiração e um conflito entre um homem que acredita no sobrenatural e uma cientista cética, um reverso do estereótipo que costumamos ver na TV", diz o roteirista e produtor Frank Spotnitz.
O diretor Chris Carter, que, em 1997, no auge do sucesso da série, foi eleito pela revista "Time" uma das 25 pessoas mais influentes dos EUA, disse que jamais teve a tentação de associar o primeiro filme -mais voltado para os fãs, dirigido por Rob Bowman (de "Elektra")- à nova aventura da dupla de ex-agentes do FBI.
Ficção & ciência
"Mas não deixa de ser interessante lembrar que alguns dos temas que tratamos na série, como o desaparecimento das abelhas, o milho sendo usado como combustível, clonagem de seres humanos e até o trabalho da Fema [sigla em inglês para agência federal de gerenciamento de emergência] ganharam destaque com o desastre do furacão Katrina, em 2005, e suas trapalhadas. Muita coisa que escrevemos e era considerada ficção hoje é ciência convencional", diz Carter. Em um filme que fala sobre pedofilia, venda de órgãos, autocastração e assassinatos em série, Carter encontrou na sátira política um espaço para tentar ganhar a platéia. Em uma cena, ele coloca lado a lado o presidente George Bush e o temido J. Edgard Hoover, primeiro e quiçá mais poderoso diretor do FBI durante a Guerra Fria. "É um comentário sobre as gravações clandestinas de conversas telefônicas feitas pelo governo e a controvérsia sobre até onde os direitos do governo se sobrepõem aos da população, um debate que volta com força total hoje", diz.
Carter conta que o 11 de Setembro foi um complicador de peso para os capítulos derradeiros de "Arquivo X" na TV (a série encerrou sua décima e última temporada em 2002). "Gravar naquela época era dificílimo. Ninguém queria ouvir uma narrativa em que o governo, ou a verdade estabelecida por quem estava no poder, estava em xeque. Fico feliz em saber que essa atmosfera já mudou, que já existem teorias da conspiração sobre os ataques às Torres Gêmeas. Durante um tempo até isso era impossível. Mas sabemos que o medo do terror é, para o espectador americano, real demais para levarmos à tela", afirma o diretor.
*O jornalista EDUARDO GRAÇA viajou a convite da Fox Films
"Quis um filme para todos, sem ETs", diz Duchovny
Ator destaca importância de criação de nova trama
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES
Ele jura que não é trocadilho infame com o título do filme, mas o ator David Duchovny quer que o interlocutor realmente acredite no que ele fala.
E ele fala pausadamente, os miúdos olhos bem abertos, atentos para a existência de alguma testemunha indesejada, no melhor estilo Fox Mulder.
"Quando lançamos "Arquivo X - O Filme", fomos instruídos a dizer que quem não era fã da série entenderia tudo, que era uma obra para todos. Mentira, não era coisíssima nenhuma! Quando conversei com Chris e disse que queria muito fazer o Mulder novamente, deixei claro qual era minha maior exigência: que "Eu Quero Acreditar" fosse, de fato, um filme para todos, sem discos voadores, sem ETs, sem nem mesmo começar com o fim do anterior. Esta é a mais pura verdade, a não ser que eu esteja mentindo novamente, claro", brinca.
Para Duchovny, só haveria sentido fazer um novo filme se ele funcionasse como uma edição luxuosa de uma das primeiras aventuras da série. Não a simples exportação de um episódio para a tela grande, mas a criação de um enredo novo, que focasse a história na relação dos dois personagens seis anos depois do fim da série.
A dupla, aliás, se beija apaixonadamente em uma demorada seqüência do filme.
"Agora ninguém pode mais reclamar. Só acho importante lembrar que Mulder e Scully não estão fadados, creio, a nenhum final feliz, mesmo em virtuais seqüências, que estamos abertos a fazer. Os dois são muito mais interessantes justamente porque são criaturas sombrias. E, para falar a verdade, beijar o David foi muito, muito estranho mesmo", diz Gillian Anderson, antes de uma gostosa gargalhada.
"Aura perdida"
Em seu surto de sinceridade, Duchovny segue lembrando que "nas últimas temporadas, já não agüentávamos mais fazer a série. Acho que o público sabe quando um ator está fazendo algo com paixão. Tem uma aura que havíamos perdido e que tenho certeza absoluta de que está de volta em "Eu Quero Acreditar'".
Duchovny ainda conta que, apesar do papo-cabeça sobre auras, não é um crente. "Não concordo com a administração de Bush, que resolveu impor a idéia absurda de que conhecimento científico é algo relativo. Por favor, escreva que David Duchovny é um norte-americano que acredita na objetividade." Fica registrado.
(EG)
sexta-feira, julho 25, 2008
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