segunda-feira, dezembro 03, 2007

Arte Latino-Americana no MoMA


Saiu hoje na Folha de S.Paulo minha matéria sobre a exposição New Perspectives in Latin American Art, que fica no MoMA até fevereiro e apresenta uma compilação do acervo latino-americano do museu, considerado por especialistas o mais completo do gênero. A exposição reflete o bom momento que a arte contemporânea latino-americana vive aqui nos EUA. A imagem acima é uma das telas mais icônicas da exposição, do uruguaio Joaquín Torres-Gracia, de 1938.

Arte latina vive fase excepcional em Nova York
Um dos maiores museus do mundo, MoMa apresenta 200 obras de artistas contemporâneos da América Latina. Exposição, elogiada pela crítica, traz peças dos brasileiros Hélio Oiticica, Lygia Pape, Mira Schendel, Alfredo Volpi e Vik Muniz

EDUARDO GRAÇA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Pela primeira vez em 40 anos, o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) apresenta uma retrospectiva exclusivamente dedicada a obras de arte latino-americana adquiridas pela instituição. Reunindo 200 peças -entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, fotografias e instalações- incorporadas ao acervo do museu na última década (a partir de 1996), "New Perspectives in Latin American Art" ocupa dois andares do prédio da rua 53 até fevereiro do ano que vem e é o exemplo mais gritante do excepcional momento em que vive, nos Estados Unidos, a arte moderna e contemporânea produzida na região. Até o próximo dia 8, a Grey Art Gallery da Universidade de Nova York (NYU) está ocupada pelos destaques da coleção de arte latino-americana da venezuelana Patrícia Phelps de Cisneros (mulher de Gustavo Cisneros, uma das maiores fortunas do continente). E a primeira feira dedicada exclusivamente à arte contemporânea latino-americana em Nova York, a Pinta, ocupou por cinco dias de novembro o Metropolitan Pavillion, na rua 18.

Um dos conselheiros informais de Cisneros é justamente o idealizador de "New Perspectives", Luiz Pérez-Oramas, que no ano passado se tornou o primeiro curador de arte latino-americana do MoMA, o único cargo do museu definido por limites geográficos, e não por vertente artística. "Há algo singular em relação à arte moderna na América Latina. Os latino-americanos jamais negaram a concepção do objeto e se afastaram da idéia de desmaterialização da arte, tão intensa na realidade anglo-saxônica. A produção de objetos como conceitos sem dúvida fascina o espectador norte-americano", diz.

Brasil
Uma das salas mais impressionantes da mostra é a que dispõe, frente a frente, a "Caixa-Bólido 12 Arqueológica", de Hélio Oiticica, e o "Livro da Criação", de Lygia Pape. Entre os destaques brasileiros, estão obras de Mira Schendel (que em 2009 será tema da exposição, também no MoMA, "Leon Ferrari & Mira Schendel: Written Paintings/Objects of Silence"), Lygia Clark, Alfredo Volpi, Waltercio Caldas e Cildo Meirelles. Os dois últimos são exceções em uma mostra que excluiu a arte mais política dos anos de chumbo.

Aquisições
O período em que o MoMA menos adquiriu obras de artistas da América Latina foram as décadas de 70 e 80, em que as ditaduras militares sufocaram a região. "Ironicamente, trata-se da época em que as populações desses países migraram para os Estados Unidos de forma mais intensa. Ouso dizer que nenhuma instituição cultural norte-americana prestou atenção à arte da América espanhola e portuguesa nesse período. Queremos começar a mudar esse quadro", diz o venezuelano Pérez-Oramas.

Roberta Smith, severa crítica de arte do "The New York Times", teceu loas à mostra, que considerou riquíssima e com excelente seleção de obras (incluindo trabalhos do uruguaio Joaquín Torres-García, dos argentinos Xul Solar e Leon Ferrari e dos venezuelanos Rafael Soto, Gerd Leufert e Gego), indo além da exposição da NYU ao apresentar exemplos de produção mais recente da região. Dos artistas brasileiros pós-80 destacam-se em "New Perspectives" José Damasceno, Leonilson, Iran do Espírito Santo, Anna Maria Maiolino, Ernesto Neto e Vik Muniz, que comparece com nove obras, entre elas a imensa fotografia "Narcissus, after Caravaggio", de 2005, parte da série "Pictures of Junk", instalada na sala de entrada do segundo andar do museu. "A escolha dessa obra do Vik mostra que estamos, aqui, olhando para nós mesmos. A exposição é um grande espelho, uma conversa sobre o que se faz nos EUA e na América Latina neste exato momento. Ela pretende ajudar o espectador a entender a arte contemporânea como um todo, a partir de sua manifestação latino-americana", diz o curador.

O acervo de arte latino-americana do MoMA -com 3.591 obras (600 adquiridas na última década)- é considerado por especialistas o mais compreensivo dedicado à região no planeta.

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