terça-feira, fevereiro 27, 2007

ENTREVISTA/Matt Damon

A entrevista que fiz com Matt Damon acaba de ser publicada no site do UOL:


27/02/2007 - 16h44


Matt Damon conta como foi bom trabalhar com Scorsese em "Os Infiltrados"


Eduardo Graça, colaboração para o UOL


Scorsese dirige Matt Damon


Nova York, BR Press - O ator Matt Damon certamente engrossa o coro dos que comemoram o Oscar recebido pelo diretor Martin Scorsese no domingo, depois de sete indicações sem vitória. O próprio Damon, 36 anos, não recebeu indicações por suas ótimas interpretações no filme de Scorsese, "Os Infiltrados", e em "O Bom Pastor", dirigido por Robert De Niro, que estréia nos cinemas brasileiros no dia 16 de março.

No thriller de Scorsese, em cartaz nos cinemas nacionais, o ator de Boston voltou a sua cidade natal para encarnar Colin Sullivan, um policial que se envolve perigosamente com a máfia irlandesa comandada por Frank Costello, o personagem de Jack Nicholson. Em "O Bom Pastor", ele é Edward Wilson, um dos primeiros agentes recrutados pela recém-nascida CIA. É justamente por meio dos dramas pessoais (que incluem as disputas com a mulher, vivida por Angelina Jolie) de Wilson que De Niro conta a história da mais importante agência de informações do planeta.

Diferentemente dos sombrios personagens que criou em 2006, Damon conversou com afabilidade por duas vezes com a BR Press, nos intervalos das filmagens de "O Ultimato Bourne" (a aguardada seqüência de "A Identidade Bourne"). Em ambas, exibia um sorriso aberto, o humor afiado e a felicidade de quem vive um momento muito especial de sua vida. O ano que passou foi, afinal, o do nascimento de sua primeira filha, Isabella, fruto do casamento com a ex-garçonete argentina Luciana Barroso Bozan. Leia a entrevista a seguir:

Brad Pitt é o produtor de "Os Infiltrados". Foi ele quem o convidou para fazer Colin Sullivan, um personagem bem sinistro e diferente da maioria dos que o público se acostumou a associar a seu perfil de bom moço?

Matt Damon - Sim, foi o Brad quem me ligou e eu imediatamente disse que seria um sonho ser dirigido pelo Marty [apelido do diretor Martin Scorsese]. Estou certo de que esse foi o "sim" mais fácil de minha carreira. Tenho percebido que, em Hollywood, há uma regra quase sem exceção de que, quanto maior o orçamento dos filmes, menos interessante será o leque de personagens. E em "Os Infiltrados" tivemos uma união dos dois lados da moeda que me interessou muito. Eu simplesmente adoro o filme.

Você é famoso por dedicar um tempo muito grande para a pesquisa de seus personagens. Este ano você teve de lidar com dois espiões (em "O Bom Pastor" e "O Ultimato Bourne") e um policial-espião (em "Os Infiltrados"). Não lhe pareceu um pouco repetitivo?


Matt Damon - Nem um pouco! Primeiro porque esses papéis são todos excelentes, cheios de nuances, uma hora você parece mais o mocinho, na outra o bandido. São ótimos exercícios. E depois porque eles eram bem singulares. Em "Os Infiltrados", não tive de me preocupar com a ambientação, com o sotaque, com a geografia da cena. Eu cresci em Boston! Aquela é a minha cidade. Então meus esforços foram os de mergulhar na subcultura dos policiais de South Boston. Eu os acompanhei para cima e para baixo e cheguei a participar de uma prisão em massa de traficantes de crack. Já O Bom Pastor foi um estudo intenso de todos os quilos de documentos e biografias relacionados à criação e aos primeiros anos da CIA, até a crise da Baía dos Porcos, em 1961. Conversei com alguns dos fundadores da agência e seus familiares, entrevistei-os e eles foram muito, muito, mas muito pacientes. Agora, o mais importante em "O Bom Pastor", é claro, foi contar com Bob (Robert De Niro).

Ele é extremamente cuidadoso com os atores, não é?

Matt Damon - Basicamente, durante toda a filmagem, ele ficava sentado, digamos, aí aonde você está (de frente para o ator), perto mesmo, ao lado da câmara, observando detalhadamente cada cena. Cada detalhe, cada mínimo ajuste eram de uma importância sem fim para ele. E isso me ajudou muito. Posso dizer que jamais me senti tão seguro em cena. Até porque você tem ali ao seu lado um dos maiores atores de todos os tempos, acompanhando cada passo de sua performance. E não foi nada intimidador, ele usou todo seu poder, sua presença, para me ajudar, me encorajar mesmo.

Você trabalhou este ano com dois ícones do cinema americano contemporâneo, De Niro e Scorsese. Eles têm estilos muito diversos de trabalho?

Matt Damon - Sim, eles são muito diferentes. Bob é, acima de tudo, um ator que dirige. E não quero dizer que o Marty não seja um tremendo diretor de atores. Aliás, esta é a maior semelhança entre os dois -- pensam muito no bem-estar e em como os atores estão se sentindo em cada cena. Ao mesmo tempo eles pensam no filme a partir de seus protagonistas, de como cada personagem vê o todo. Agora, Marty já chega no set com a cena pronta em sua cabeça do ponto de vista de quem dirige, do movimento de câmara, de quem sabe exatamente como a tecnologia pode funcionar a seu favor. Ele traz uma experiência que poucos no cinema contemporâneo têm. Talvez Spielberg, Sorderbergh e Coppolla consigam fazer o que Marty alcança, sem precisar antes conversar horas com o responsável pela fotografia. Está na cabeça deles.

Seus personagens nos dois filmes são seres atormentados por um passado que parece os assombrar o todo tempo. E você, em contrapartida, vive um momento extremamente feliz em sua vida particular. Foi complicado criar esses personagens sombrios enquanto sua vida ia de vento em popa?

Matt Damon - Sim, foi inegavelmente o melhor ano de toda a minha vida. E fazer Collin e Edward foi um desafio no sentido de que teria de esconder qualquer traço de felicidade dos personagens. Mas, sabe, estou lá atuando, fazendo o que faço de melhor, não penso mais, a esta altura de minha trajetória, nos riscos de contaminar os meus personagens com minha vida pessoal. E há tantas coisas terríveis no mundo que podem inspirar você na hora de criar estes homens atormentados, não é?

Um comentário:

Anônimo disse...

Damon é um bom ator. Ele parece também saber administrar sua carreira. Pelo menos melhor do que o Ben Aflek que começou com ele né?
Os Infiltrados é um filme muito interessante. Roteiro bem bacana.
Lembro de outro filme que ele atuou onde seu personagem era bem sinistro: O Talentoso Ripley