quinta-feira, setembro 21, 2006

Diretinho da Redação (50)


A coluna da semana, que já está no DR, é sobre o genial filme Half Nelson, produção independente em cartaz aqui nos EUA infelizmente ainda sem distribuição garantida no Brasil.


HALF NELSON

Eduardo Graça

Nova Iorque - Há um pequeno grande filme em cartaz nos cinemas americanos. Chama-se Half Nelson, alusão a uma posição da luta-livre que imobiliza o adversário mas pode acabar se voltando contra o atacante. O filme poderia ser apenas a história do encontro de um professor branco viciado em crack com sua aluna negra de 13 anos, que tenta de todas as maneiras não ser recrutada pelo exército do tráfico. Mas vai muito além desta síntese simplista.

Half Nelson passa-se na fronteira do Gowanus Canal, uma espécie de linha divisória do Brooklyn dos anos Bloomberg: de um lado as áreas ‘resgatadas’ que caminham para se tornar uma nova Manhattan (ao norte), repletas de restaurantes e butiques da moda. Do outro o decadente e esquecido distrito industrial, ocupado predominantemente por negros, ao sul do canal. O filme é dirigido por Ryan Fleck, que foi quase tão saudado pela crítica quanto seu protagonista, Ryan Gosling, o professor de História Dan Dunne, comparado a Marlon Brando por sua interpretação impressionista, repleta de silêncios e de uma intensidade sem par.

Enquanto esta produção independente vai acumulando prêmios nos festivais de cinema europeus e se fala abertamente da possível indicação de Gosling a melhor ator no Oscar do ano que vem (o que, quem sabe, animaria algum distribuidor a colocar o filme em cartaz no Brasil), Half Nelson conquista fãs aqui nos EUA ao mesclar de forma nada didática o golpe militar chileno, a luta pelos direitos civis dos negros e homossexuais e a epopéia dos imigrantes sem oferecer fórmulas possíveis de redenção. É um filme que, ao contrário de peças menos ousadas como as Torres Gêmeas de Oliver Stone, não tem medo de apresentar aos espectadores uma visão política que passa pela necessidade – e dificuldade – nossa de transportar a ética e a moral para a esfera pessoal. Aqui, a única possibilidade de cura parece ser o contato humano. Mas, mesmo assim, ainda quando se decide prender a respiração e adentrar na intimidade do outro, o resultado quase sempre não é recompensador.

Half Nelson revela-se universal ao reconhecer que hoje o ser humano pode mesmo quase tudo, inclusive destruir-se com intensidade sem par. Mas o filme de Fleck, abençoado pela atuação magistral de Gosling, é essencialmente uma obra de arte nova-iorquina, na medida em que, justamente como a cidade mais rica da mais rica das nações, abraça com orgulho a tolerância ao diferente, sem no entanto jamais buscar entendê-lo.

Um comentário:

Olga de Mello disse...

Doidinha pra ver este Half Nelson. Enquanto espero, assisto O Diabo Veste Prada, sem qualquer pretensão crítica. Sessão da Tarde básica, com Meryl Diabólica Streep.
Saudades imensas suas.