segunda-feira, julho 17, 2006
Diretinho da Redação (47)
Amigos,
a coluna da semana já está no DR. A reportagem sobre os advogados norte-americanos que cuidam dos presos de Guantánamo sai no Valor Econômico desta sexta-feira.
TERRORISMO, AQUI E ACOLÁ
Por conta de uma reportagem que preparo aqui em Nova Iorque, conversei esta semana longamente com um dos advogados norte-americanos que defendem os presos encarcerados na base militar de Guantánamo.
Havia muito o que falar e o tempo, ainda que generoso, parecia conspirar contra nós. Enquanto conversávamos, a Suprema Corte decidia, em Washington, contra o governo Bush, que os confinados naquele pedaço nefasto do Caribe estavam sim, afinal de contas, sob a proteção da Convenção de Genebra. E, em São Paulo, o PCC levava o terror à maior cidade da América do Sul, comandando das cadeias novos ataques a uma população tão acuada quanto acéfala.
Depois de conversarmos longamente sobre os abusos cometidos contra seus clientes, disse a meu entrevistado, um campeão da denúncia de abusos cometidos pelo Estado contra cidadãos americanos e estrangeiros, que era difícil não pensar também nos presos brasileiros, tratados de forma sub-humana nas cadeias e presídios do país. Ele retrucou que “o cerne do problema não está do lado de dentro das celas.
É preciso que as pessoas, aqui e no Brasil, entendam de uma vez por todas que a maioria dos cidadãos que vão parar nas penitenciárias, nas cadeias, um dia vão sair de lá, vão voltar a viver no meio delas, do lado de fora. Não tem jeito. Não há Estado que sobreviva – ética, mas também economicamente– sem um planejamento inteligente visando a recuperação destas pessoas. Não há como mantê-las lá para sempre e, ao mesmo tempo, é preciso evitar que tenhamos de gastar ainda mais, seja prendendo-as novamente, ou, ainda mais grave, com a perda de novas vidas, de novas vítimas da violência”.
Dependendo de quem a utiliza, esta pode ser, obviamente, uma matemática perversa. Entrevista já terminada, lembro ao advogado que neste exato momento cresce o desejo, no Brasil, da implantação da pena de morte como solução – econômica e segura – a fim de exterminar monstros sociais como o PCC. Ele, que trabalhou durante muitos anos como representante legal, e sem honorários, de prisioneiros que estavam no corredor da morte e não tinham como pagar sua defesa, tem uma opinião clara sobre o tema: “A pena de morte não faz com que nenhuma comunidade fique mais segura ou menos violenta. Aqui nos EUA, 80% das execuções acontecem nos estados sulistas, aonde o número de casos de crimes violentos é o mais alto do país”.
Há seis anos, a então procuradora-geral Janet Reno revelou publicamente que passou sua vida adulta buscando um único estudo que provasse que a pena de morte fosse um inibidor do aumento dos crimes no país. “Eu jamais o encontrei”, disse.
Lembramos então que em uma recente pesquisa realizada com os mais importantes especialistas em violência urbana nos EUA, 84% dos entrevistados rejeitaram a noção de que a pena de morte diminui, em qualquer instância, a ocorrência de crimes violentos. Na maioria dos casos, acontece justamente o oposto.
Terminamos a longa conversa talvez mais desanimados do que quando a começamos, mas com o sincero desejo de que a sociedade brasileira, tão ciosa de suas qualidades morais e éticas, busque outra saída – quem sabe até mesmo uma solução - para a crise aparentemente insolúvel que a cerca.
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