De volta a Nova Iorque, aí vai a coluna da semana, já online no Direto da Redação. A camisa, aparentemente, ainda não está à venda.
Eles Não Se Emendam
“Eu fui caçar com o Dick Cheney e tudo o que consegui foi esta camiseta manchada de sangue”. Parece piada de mau gosto, mas a imagem que circulou pela internet nos últimos dias, com o texto impresso em uma camiseta branca, revela um pouco do sabor de fim de festa, da ressaca causada por uma administração trapalhona, inconseqüente e teimosa.
O acidente em que o vice-presidente se envolveu quando tentava abater animais no rancho de uma milionária republicana, no Texas, foi parar na primeira páginas dos jornais. Depois de mais de 24 horas de espera por uma declaração pública e de uma entrevista desastrosa na Fox News – a rede de televisão de seu compadre Rupert Murdoch – em que até reconheceu ter ‘alvejado um amigo’, mas em que enfatizou principalmente seu poder de ‘manter certas informações em segredo’, Cheney viu sua aprovação cair a 29% dos eleitores norte-americanos. Não se tem notícia de um vice-presidente tão impopular assim na história moderna do país. Em tempo, o ‘amigo alvejado’ passa bem e não corre risco de vida.
A situação do governo republicano, no entanto, parece cada vez mais terminal. O presidente viu sua própria aceitação chegar, esta semana, a 33 pontos percentuais abaixo de quando Bill Clinton enfrentava o processo de impeachment no Congresso, em meio ao escândalo Mônica Lewinsky. O bom leitor imagina então que a semana de Bush foi das mais nervosas, com os gênios da Casa Branca bolando uma reação de peso, especialmente em um ano eleitoral, com expressiva renovação do Congresso.
Qual o quê. Pouco se ouviu falar de Carl Rove, o principal estrategista da corte ‘neocon’, ainda às voltas com o processo de vazamento de informação que revelou a identidade de uma agente secreta da C.I.A. na tentativa de calar seu marido, um diplomata disposto a denunciar as armações do vice-presidente ruim de mira ao formatar seu caso contra o Iraque. Aliás, um humorista do primeiro time anunciou, com pompa, na televisão, que finalmente se descobriu uma das tais ‘armas de destruição em massa’ tão alardeada por Cheney– só que ela não foi encontrada em terras de Saddam e sim no sul do Texas, e o tiro saiu pela culatra.
George W. Bush parece ignorar a ópera bufa em que se transformou seu governo e passou as últimas horas viajando pela América Profunda, promovendo mais uma de suas cruzadas – a do fim da dependência de petróleo, promovendo fontes alternativas de energia. Visitou uma montadora de carros à base de energia solar no Michigan, passeou de carro híbrido em Wisconsin e até usou as câmeras de tevê para implorar a deputados e senadores, comovido mesmo, uma ajuda de custo de US$ 31 milhões para a pesquisa de novas baterias.
Mas o melhor da festa ainda estava por vir: no Colorado, sua excelência resolveu dar uma esticada no Laboratório Nacional de Energia Renovável, uma das muitas iniciativas públicas que seu governo sucateou, reduzindo verbas e incentivos. Como o novo plano de energia de Bush pegou a patota neocon de surpresa, Samuel Bodman, o secretário de Energia, lívido, teve de liberar às pressas cinco milhões de verdinhas para readmitir 32 funcionários que haviam sido dispensados pelos republicanos meses atrás.
Bodman foi o mesmo que, um dia após a declaração de Bush no discurso do Estado da União, em 31 de janeiro, apressou-se em corrigir o presidente. Seria impossível, ele lembrou, que os EUA substituíssem, até 2025, 75% da importação de petróleo do Oriente Médio por fontes alternativas de energia: “O que o presidente disse não deveria ter sido tomado ao pé da letra. Ele nos ofereceu apenas um exemplo do que poderemos fazer”. Então tá. Esta administração não se emenda mesmo. Por estas e outras, deve levar um revés histórico nas eleições legislativas do segundo semestre. A se conferir.
quarta-feira, fevereiro 22, 2006
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