O texto abaixo já pode ser lido no Direto da Redação
As Voltas que o Tempo Dá
Às vezes é assim mesmo. A gente fecha os olhos e, quando olha novamente o mundo do lado de fora, parece que entrou em uma daquelas máquinas do tempo bem fuleiras, típicas dos filmes de ficção científica dos anos 60. Na televisão, um descabelado Bob Dylan canta ‘Blowin’in the Wind” anunciando que o novo sempre vem, na promoção de lançamento do aguardado documentário de Martin Scorsese. No sul do país começam os julgamentos de uma série de imbecis racistas responsáveis pelo linchamento de estudantes negros e ativistas pelos direitos civis quarenta anos atrás. E nas ruas de todos os Estados Unidos mães e jovens dão-se as mãos para protestar contra uma guerra sem sentido, a milhas e milhas de suas casas.
A amarga sensação de déja-vu me bateu ainda mais forte nesta segunda-feira, com a polícia prendendo manifestantes em plena Union Square. Cindy Sheehan, a mãe de Casey, soldado de 24 anos morto no Iraque, que ficou famosa por passar o verão acampada na frente do rancho de George W.Bush, estava lá. Esta era sua parada nova-iorquina em uma gigantesca viagem de ônibus que ela está fazendo por todo o país, sempre lançando no ar a mesma questão: o que nossos meninos ainda estão fazendo no Iraque e no Afeganistão?
Em Manhattan, Cindy não conseguiu terminar seu discurso. Os policiais, obedecendo uma determinação da administração republicana de Michael Bloomberg, cortaram-lhe o microfone. A justificativa era que os manifestantes não tinham uma licença especial para ficar incomodando os compradores das lojas vizinhas da Virgin Megastore e da Barnes & Noble. Enquanto centenas de ativistas políticos e consumidores em potencial gritavam juntos ‘Vergonha, Vergonha!”, o líder esquerdista Paul Zulkowitz foi levado de camburão para a delegacia – acusado de ‘promover a desordem em praça pública’.
Quando ainda podia falar, Cindy criticou a senadora Hillary Clinton por seu apoio à invasão do Iraque e à permanência das tropas em Bagdá. Depois contou que já percorreu 51 cidades em 28 estados do país, e que não pretende parar tão cedo. Em cada bairro ela descobre uma nova história, faz uma nova amizade, recebe o apoio de mais mães e familiares de soldados. Pode até ser um exagero de quem acaba de voltar de uma intensa viagem de algum lugar do passado, mas, com sua caravana, mamãe Cindy vai se tornando uma imagem importante no jogo político norte-americano. Como ela mesma diz, neste vaivém incessante de passado e futuro, 2008, afinal de contas, é logo ali.
quinta-feira, setembro 22, 2005
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Um comentário:
Cada povo tem a Regina Gordilho que merece...
E a Cindy, além de perder o filho, coitada, está desmascarando a democracia americana, não?
Cara, cadê a liberdade de imprensa, a proteção das fontes, o direito à manifestação livre?
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