terça-feira, maio 31, 2005

Diretinho da Redação (16)



Defuntos redivivos apoiando seus candidatos favoritos em dia de eleição, compra de votos, gente comparecendo duas vezes à mesa eleitoral, denúncias de corrupção e tráfico de influência para todos os lados, três resultados diferentes em seis meses de apuração de votos. Aonde? Em Severinópolis? Não. Aqui, nos Estados Unidos mesmo, mais precisamente no estado de Washington, na costa oeste, cuja capital é a cosmopolita Seatlle.Esta semana televisões e jornais daqui acompanham com atenção mais um capítulo desta sitcom política que não tem data para terminar. A Côrte Estadual de Washington começou a ouvir os advogados do candidato republicano, Dino Rossi, que perdeu o pleito de novembro, depois de três recontagens, para a democrata Chrsitine Gregoire, por 129 votos, em um universo de 2,8 milhões de eleitores. Ele não aceita a derrota. Se alguém decidir ligar hoje para o comitê de Dino Rossi vai encontrar do outro lado linha simpáticos atendentes dizendo “Rossi para governador, bom dia!”. Lobistas dos dois lados do campo político local rumaram para Seattle e, ao som do pós-grunge característico da bela cidade em que chove mais por ano do que em Londres, tentam sair vitoriosos desta queda-de-braço a qualquer custo.A qualquer custo mesmo. Os democratas anunciaram um ‘investimento’ de US$ 500 mil dólares – vindos em boa parte de sobras da caixa de campanha do senador Kerry em 2004 – em lobistas, advogados e material para a miliância. Os republicanos estimam que os custos finais da brincadeira, que deve seguir para a Suprema Côrte, já estão em US$ 3 milhões. O irônico é que a principal linha da defesa democrata para a acusação republicana de que inúmeras irreglaridades – como o voto dos mortos-vivos – foram cometidas em redutos liberais do estado é a de que as bandalhas também ocorreram, só que com mais intensidade, nos cantões conservadores. Todos concordam que corrupção elitoral houve, é claro.A eleição que nunca acaba está sendo acompanhada, ‘atentamente’, pela Casa Branca, avisa o cada vez mais poderoso líder do governo no senado, Bill Frist. E nós com isso? George Bush, é verdade, não apareceu na tevê dizendo que apóia as obstruções de Dino Rossi porque, afinal de contas, ‘parceiro ajuda parceiro’. Mas, no exato momento em que a sociedade brasileira se debate com mais um escândalo, desta vez envolvendo a aliança PT-PTB, é bom lembrar que corrupção não cheira mal apenas no Brasil. Que é uma vantagem e um direito democrático podermos vê-la estampada de modo gritante nas primeiras páginas dos jornais, para horror de governistas e guardiães do $, aflitos por conta de uma virtual contaminação da crise política nos humores do mercado. Cá como lá, o importante é apurar. CPI já.

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