terça-feira, setembro 29, 2009

Honduras

Boa, do Jânio de Freitas, na Folha de hoje:

"Os opositores ao governo Lula, os de visão mais convencional e conservadora, são incessantes na opinião de que Zelaya fazer política de dentro da embaixada 'é um absurdo'. 'transformou a embaixada na casa da mãe joana', e por aí. Mas se Zelaya é o presidente legítimo de Honduras e está na embaixada apenas na condição de hóspede, como considera o governo Lula, então o absurdo estaria em tolher-lhe a palavra e o direito de usá-la em defesa da causa democrática"

domingo, setembro 13, 2009

No Valor, Distrcit 9

Hoje, no Valor:

Cinema: Neill Blomkamp estreia na direção com sucesso de bilheteria em que alienígenas têm um pé em Johannesburgo e outro no Rio.


Ficção em tempo real


  • Por Eduardo Graça, para o Valor, da Cidade do México
  • 11/09/2009


Divulgação

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"Distrito 9": filme, que trata de xenofobia, faz referência aos métodos usados pelo regime do "apartheid", às manobras de Bush no Oriente Médio e às milícias cariocas


Um filme de ficção científica recheado de analogias sociopolíticas, dirigido por um sul-africano estreante, fascinado por "Cidade de Deus", produzido pelo diretor de "O Senhor dos Anéis" e com elenco encabeçado por um amador. Essa foi a receita da surpresa do verão americano, "Distrito 9", que já faturou US$ 103 milhões em quatro semanas nos cinemas dos Estados Unidos, sem nenhuma estrela hollywoodiana como chamariz.

Camiseta e calça de pano para enfrentar o calor da Península de Yucatán, Neill Blomkamp, de 29 anos, é o responsável pelo que a crítica americana celebra como a reinvenção de um gênero. Deixe-se de lado o "E.T." delicado de Steven Spielberg, a batalha entre o bem e o mal de "Guerra nas Estrelas" de George Lucas ou as questões filosóficas kubrickianas. O protegido de Peter Jackson, até então um competente diretor de vídeos musicais e comerciais, especializado em efeitos especiais e animação em 3-D, usa a ficção científica para tratar do tempo presente em uma área que conhece bem: a África do Sul. "Este é meu primeiro filme. Sabia que se fizesse algo muito sério, muito duro, era como se estivesse entrando no ringue para perder a briga. Apostei no híbrido. Sabia que a ficção científica tornaria o filme um pouco mais leve", diz Blomkamp.

Aficionado pela "violência satírica dos filmes de horror dos anos 80", em "Distrito 9" Bloomkamp conta a história de alienígenas cuja nave emperrou nas cercanias do Cabo da Boa Esperança e são forçados pelo governo sul-africano a viver como refugiados em um acampamento na periferia de Johannesburgo. O filme, com sua quantidade colossal de sangue e assassinatos, remete às primeiras obras de Jackson, responsável por "Trash-Náusea Total" e "Fome Animal". Mas a narrativa, em estilo "fake-doc", e as cenas em que a polícia invade a favela onde os alienígenas estão confinados, leva a plateia a pensar em "Cidade de Deus".

Blomkamp é fã do filme de Fernando Meirelles e pesquisou sobre a realidade carioca antes de concretizar seu primeiro longa-metragem: "'Cidade de Deus' é um filmaço. E li tudo o que pude sobre os policiais do Bope, agora sobre as milícias. Diria que o Brasil é o país mais semelhante ao cenário retratado em 'Distrito 9', esta mistura de fatias do Primeiro Mundo mescladas com quinhões do Terceiro Mundo".

Blomkamp repete mais de uma vez, durante a entrevista, que "se alguém quiser saber como será o mundo no futuro, precisa olhar para Johannesburgo e para o Rio de Janeiro". A ficção científica de sua imaginação está mais para Malthus do que para Orwell. "A discrepância entre pobres e ricos no planeta tende a aumentar. A população cresce e os recursos diminuem. Os ricos se refugiam em condomínios fechados, em busca de proteção. Em 50 anos o mundo se parecerá mais e mais com o Rio e a Johannesburgo de minha infância."

O diretor deixou a África do Sul em 1997, pouco antes de completar 18 anos. Passou pela fase de distensão do "apartheid" e jamais deixou de retornar regularmente a seu país, observando a institucionalização de um partido único e a modificação do caráter das tensões étnicas. "Meu primeiro contato real com a pobreza sul-africana deu-se quando fui com um grupo da escola a uma favela para pintar casas de pessoas mais pobres. Era como tínhamos contato, brancos e negros. 'Distrito 9' me faz recordar ou, melhor, apertar um botão no subconsciente que me transporta para questionamentos sociais fundamentais para mim. Tentei incorporar algumas das imagens que vi, ainda adolescente, no filme."

Como se estivesse de fato filmando um documentário, Blomkamp mudou o roteiro no ano passado, quando começava a filmar, depois da implosão do Zimbábue. Milhares de refugiados atravessaram a fronteira em direção à África do Sul e, relata o diretor, "é por isso que você vê em 'Distrito 9' os negros sul-africanos querendo que os alienígenas sejam confinados, mandados embora". E completa: "Um dos piores massacres que já aconteceram em meu país foi quando sul-africanos pobres, em sua maioria negros, incendiaram em 2008 as casas dos imigrantes e mataram cerca de 50 pessoas oriundas da antiga Rodésia. Despertou minha atenção o grau de violência usado, com gente sendo queimada viva e muitos linchamentos".

A xenofobia retratada no filme deixa para trás as diferenças étnicas, para tratar de algo incomodamente humano: a repulsa ao que identificamos como diferente. Nada mais diferente do que ETs com corpo de crustáceos e fanáticos por comida enlatada para gatos. Daí a decisão de trazer a trama para os dias de hoje, aqui e agora.

"Distrito 9" nasceu a partir do curta-metragem "Alive in Joburg", que já alinhavava o tema e trazia no papel-título o funcionário-padrão vivido por Wickus van der Merwe, escalado para informar aos alienígenas que eles serão transportados para uma área mais distante de Johannesburgo, um campo de concentração disfarçado de projeto habitacional. Uma executiva da Universal viu o curta e enviou para Peter Jackson, pois achava que havia ali, além das óbvias qualidades expostas em "Distrito 9", algo que poderia ser usado em "Halo", o filme baseado no videogame de mesmo nome então desenvolvido pelo diretor da trilogia "O Senhor dos Anéis".

Jackson gostou e os dois começaram a trabalhar em "Halo", até que problemas de direitos autorais os levaram à conclusão de que já tinham o filme que queriam fazer. O novo título remete ao Distrito 6, a área mais pobre reservada para negros na Cidade do Cabo durante o "apartheid". "Queria manter a idéia de comunidades segregadas, guetos, semiprisões, já que as pessoas eram forçadas a viver lá, espaços de confinamento onde esquecemos o outro. Apenas virei o 6 de cabeça para baixo e encontrei meu Distrito 9", diz Blomkamp.

No filme, os policiais são terceirizados, contratados por uma grande corporação, um detalhe que ganha importância com a descoberta, nesta semana, de que até mesmo a CIA terceirizou agentes no governo Bush II. "A polícia privada, no filme, é tanto uma referência aos métodos usados pelo regime do 'apartheid' em minha infância quanto às manobras de George W. Bush no Oriente Médio e as milícias cariocas. A sátira, ali, é dirigida especialmente para se fazer pensar sobre a impunidade desses exércitos particulares."

O repórter viajou a convite da Sony Pictures, distribuidora de "Distrito 9"

quinta-feira, setembro 10, 2009

Eu, no Omelete: UP

Escrevendo sobre UP, um filme que adorei, aqui.

Carta Capital: Disney Compra Marvel

Na Carta Capital desta semana:

Mickey manda, Hulk obedece

04/09/2009 10:45:25

Eduardo Graça, de Nova York

Os irmãos metralha deram uma carteirada no Homem-Aranha. O Mickey Mouse, com a providencial ajuda do Tio Patinhas, arrematou, com um único lance, os direitos de uso do Wolverine (e todos os X-Men), do Thor, do Capitão América, do Homem de Ferro e do Hulk, entre outros 7 mil personagens. Por 4 bilhões de dólares a Walt Disney Company comprou, na segunda-feira 31 de agosto, a Marvel Entertainment, em um negócio que pegou de surpresa especialistas de mercado e gurus do mundo do entretenimento, impressionados com a agressividade da empresa voltada para produtos-família, como as grifes Hannah Montana e High School Musical.

Com um impressionante catálogo de desenhos animados – de destaques do cinema no século XX, como Fantasia, a novas produções, via Pixar, como o delicado Up - Altas Aventuras, passado na Amazônia, que estreia neste fim de semana no Brasil –, a Disney é uma das mais importantes corporações de mídia do planeta, dissecada nos anos 70 pelo sociólogo belga Armand Mattelart e o escritor chileno Ariel Dorfman no clássico Para Ler o Pato Donald, em que era apresentada como ponta de lança da propaganda imperialista durante a Guerra Fria. Mais: a dupla denunciava o caráter assexuado dos personagens das histórias em quadrinhos. Nada mais distante da Marvel, com personagens das mais variadas etnias, dependentes químicos e sexualidade pouco convencional.

Em artigo para a Salon, o crítico Andrew O’Hehir lembra que em sua adolescência, quando ia comprar gibis, Marvel e Disney faziam parte de universos completamente diversos. Os quadrinhos do Pato Donald e de seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho ficavam na vitrine. Os deuses supermasculinizados da Marvel permaneciam escondidos no fim da loja. “A lição central dessa aquisição é a mudança radical de nossa cultura de-massas, de minha infância em Berkeley para hoje. Já imaginou os Jonas Brothers no lugar do Homem de Ferro ou do Wolverine? Ou a Pixar produzindo a batalha entre Os Incríveis e O Incrível Hulk?”, sugere.

Para Ted Magder, diretor do Conselho de Mídia e Cultura da Universidade de Nova York (NYU) e autor de Franchising the Candy Store, focado em disputas comerciais na era da globalização, não há possibilidade de a Disney infantilizar ainda mais os personagens da Marvel. Fãs, afinal, já reclamam de excessos como a adaptação do Homem-Aranha, a máxima criação de Stan Lee, para a Broadway. “Não podemos esquecer que a Disney é a dona da Miramax. Os super-heróis da Marvel não serão ‘disneyficados’ em termos de moral ou valores pessoais. Mas se submeterão à estratégia de marketing da Disney.”

Magder afirma que a aquisição do controle da Marvel pela Disney, garantida com um pagamento de 50 dólares por ação, em uma valorização de 29% do preço real, depois de três meses de negociações secretas, revela um desejo sintomático, neste momento de crise financeira global, dos grandes conglomerados de mídia norte-americanos de reduzirem os riscos criativos ao máximo. “ADisney, com longa história de produzir conteúdo próprio, saiu às compras para adquirir algo já formatado.”

Nos últimos anos, a Marvel se transformou em um estúdio de cinema, explorando seus personagens em diversos meios. Não apenas em campeões de bilheteria, que teriam totalizado 4,5 bilhões de dólares nos cinemas de todo o planeta, mas também em jogos de videogame. “A marca Marvel e seu conteúdo, que é um tesouro, só serão beneficiados por nossa extraordinária capacidade de distribuição e produção”, disse Robert A. Iger, o principal executivo da Disney, em entrevista na segunda-feira.

Magder lembra que o poder de multiplicação dos peixes é o fator mais atraente para a Marvel em sua decisão de ser englobada pelo castelo de Mickey. “A Marvel tem uma biblioteca de personagens que podem ser transformados em filmes, videogame, brinquedos, qualquer tipo de merchandising, até em parques temáticos”, diz.

Bob Iger, por sua vez, combate os que acreditam ter sido um passo em falso da Disney arrematar a gigante dos gibis em um momento de especial preocupação para a indústria de cultura de massas norte-americana, com estúdios cortando custos e índices de leitura despencando todos os meses: “Nós pagamos um preço que reflete o valor agregado pela Marvel e o potencial que podemos criar juntos. É o que chamo de preço total, mas é um preço justo”.

Os leitores atentos de Mattelart e Dorf-man não se surpreendem com o fato de a Disney pretender integrar de imediato alguns dos personagens da Marvel em seus parques na Califórnia, na França e em Hong Kong. A exceção é o Disney World em Miami, por conta de um direito de exclusividade com a Universal, que em seu parque em Orlando conta com atrações como a The Amazing Adventures of Spider-Man e a The Incredible Hulk Coaster. De todo modo, os estúdios que fecharam parcerias com a Marvel antes da aquisição da Disney (como a Fox com o X-Men, a Sony com o Homem-Aranha, a Universal com o Hulk e a Paramount com o Homem de Ferro) seguem com o direito de exclusividade de produção e distribuição desses personagens no cinema. Por isso, críticos da tacada de Iger apontam para os riscos da saturação da Marvel no mercado.

Nikki Finke, do Deadline Hollywood, foi o primeiro a revelar as ligações do comandante da Disney com o mundo dos quadrinhos. O tio de Iger, Jerry, criou, nos anos 30, juntamente com o adolescente Will Eisner, um escritório especializado na produção de gibis. Anos mais tarde, Eisner criaria personagens como The Spirit. O primeiro funcionário contratado por Iger e Eisner foi Jack Kirby, o “pai” do Capitão América.

Finke conta que, desde os anos 90, Bob Iger comandava discussões para a aquisição da Marvel, mas enfrentava resistências de executivos que a consideravam “pouco Disney”. Depois de se tornar o CEO da empresa, e de adquirir em 2006 a Pixar por 7,4 bilhões de dólares, seu sonho voltaria à tona. Em junho, teria voado para Nova York com o objetivo de conversar com Ike Perlmutter, que comprou a Marvel há uma década, quando em crise, e a transformou em máquina de fazer dinheiro. Como Perlmutter controla 37% das ações da Marvel, estima-se que ele tenha embolsado algo como 1,5 bilhão de dólares com a venda, ao mesmo tempo que teria garantido a independência da empresa no mesmo estilo da Miramax durante o período em que os irmãos Weinstein comandavam o estúdio, responsável por sucessos como O Paciente Inglês, Chicago e Shakespeare Apaixonado.

O casamento Disney-Marvel sintetizaria uma realidade em tempos de vacas magras: quem tem capital engloba empresas com potencial, mas sem possibilidade de alçar maiores voos com investimento próprio. A Marvel estaria com problemas para financiar a adaptação de filmes, pois teria de arcar com um terço das despesas de produção. Com a Disney, tudo ficará mais fácil. Analistas lembram ainda que a união é perfeita, pois, enquanto os personagens da Marvel são mais populares com meninos, produtos da Disney como A Pequena Sereia, Jonas Brothers e Hannah Montana recebem mais atenção das meninas. Uma exceção seria o mega-hit Piratas do Caribe.

Um dos poucos na mídia a não se impressionar com o negócio foi o experiente Jeffrey Wells, com passagens pela Entertainment Weekly, People, Los Angeles Times e The New York Times. Wells, há uma década o oráculo por trás do site Hollywood Elsewhere, diz que, quando uma corporação engloba outra, as mudanças são pouco significativas. Para Wells, no século XXI, todas as corporações de mídia estão viciadas nas adaptações de histórias de super-heróis para a tela grande.

“Concordo com ele apenas em parte. O conteúdo produzido pela Marvel é importantíssimo para a Disney, exatamente porque não se trata de coisas como A Pequena Sereia ou Mickey Mouse. A Disney precisava incrementar seu modelo de negócios e este é, a meu ver, um belo gol. Wells não leva em conta a extensão com que a Disney, mestre em ganhar cada dólar com a exploração de seus personagens, pretende usar os símbolos maiores da Marvel. Você já pode esperar pelo Quarteto Fantástico Adventure Weekend Park no que hoje é um estacionamento vazio em uma cidade perto de sua casa!”, diz Magder.

Não deve ser mera obra do acaso a revelação mais interessante de Nikki Finke: Bob Iger teria passado os dois últimos meses lendo sem parar a Enciclopédia Marvel, estudando com devoção exemplar cada aspecto das histórias dos personagens da máquina de sonhos dos quadrinhos.

sexta-feira, agosto 14, 2009

VALOR: Woodstock, 40 Anos

Neste fim de semana o Valor Econômico publicou, em sua revista de cultura, um especial sobre os 40 anos do Woodstock. O escriba aqui colaborou com o texto que segue abaixo:

Paz e amor, bicho!
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova York
14/08/2009


O show de Hendrix (centro, com faixa vermelha na cabeça): "A música de Woodstock, a guitarra de Jimi, eram humanistas. Seus temas centrais eram esperança e amor", diz Tiber, autor de livro sobre o festival


As mãos balançam freneticamente, marcando em caracol o ritmo da percussão. O sorriso, imenso, e o turbante colorido agradam à multidão extasiada com a velocidade com que a baixinha de olhos claros canta suas canções. Lá vem Carmen Miranda, recebida entusiasticamente pelos hippies de Woodstock. Não, a cena não aconteceu há exatas quatro décadas, em meio às chuvas que transformaram o imenso gramado da fazenda de Max Yasgur no lamaçal mais icônico da história do rock 'n' roll. "Mas, se faltou alguém em Woodstock, foi a Carmen", diz Elliot Tiber, autor de "Aconteceu em Woodstock", inspiração para o filme de mesmo nome dirigido por Ang Lee, suas memórias dos bastidores do maior festival de rock de todos os tempos.

O livro conta como o jovem judeu condenado a administrar um hotel de beira de estrada comprado por seus pais, imigrantes bielo-russos, se transformou em protagonista do gigantesco festival de música com uma simples ligação telefônica. Tiber informou o produtor Michael Lang - seu amigo de infância nas ruas do Brooklyn - que, por causa das muitas tentativas de revitalizar o hotel, ele recebera uma permissão da prefeitura para organizar um evento cultural na cidade de Bethel, a poucos quilômetros de Woodstock, também no Estado de Nova York, onde os organizadores do evento tentavam convencer os vereadores locais de que os jovens fãs dos Beatles e dos Rolling Stones (duas bandas que não marcariam presença no fuzuê) não destruiriam suas propriedades.

Quando era criança, Tiber costumava atravessar a Ponte do Brooklyn para se divertir, nos cinemas de Times Square, com os filmes da Brazilian Bombshell. "Foi ali que descobri o sorriso de Carmen. Ela seria um mega-hit em Woodstock", afirma, pontuando não acreditar ser mera coincidência a presença da cantora no movimento contracultural brasileiro desencadeado na mesma época, especialmente em sua vertente musical, com a Tropicália.

Para além dos balangandãs, o colunista Clyde Haberman, do jornal "The New York Times", brinca que é inevitável, neste verão nova-iorquino marcado por temperaturas amenas e muita chuva, deparar com brigadas de sessentões, vestidos com roupas de incrível mau gosto, evocando um certo festival realizado no norte do Estado de Nova York, responsável direto por uma nova era de harmonia, compreensão e honestidade. "Tá bem, a Era de Aquário acabou não saindo como estava programada, mas a música foi inegavelmente sensacional", provoca. Janis Joplin e Jimi Hendrix ainda estavam vivos e marcaram presença ao lado de The Who, Greateful Dead, The Band, Jefferson Airplane, Joe Cocker, Carlos Santana, Sly and the Family Stone, a banda Crosby, Stills & Nash e 24 outras atrações.

O Festival de Música e Artes foi sintetizado no discurso do fazendeiro, contactado por Tiber, que inicialmente alugou seu gramado por míseros 50 dólares/dia, depois aumentou para 5 mil dólares/dia e, finalmente, quando percebeu a dimensão do evento, fechou o acordo com o produtor Michael Lang por um pacote de 50 mil dólares por três dias, ainda assim uma pechincha se levarmos em conta o lucro obtido pelos organizadores com a marca Woodstock nos anos que se seguiriam.

Presente no histórico e excelente CD lançado pela Rhino, intitulado "Woodstock, 40 Anos Depois: de Volta à Fazenda de Yusgur", o fornecedor dos melhores produtos de laticínios orgânicos da região saúda, do palco a ser ocupado por lendas vivas da música pop americana, a experiência que está por começar: "Vamos provar que meio milhão de pessoas podem se juntar e se divertir durante três dias e contar com nada mais do que o poder da música". Daí o filme de Ang Lee, a reedição de DVDs e CDs, a publicação de livros, a venda de relíquias pela internet e os muitos festivais comemorativos neste mês. Há 40 anos a música popular tinha um poder de transformação comportamental inconcebível no universo do download instantâneo e do YouTube.

A trilha sonora do último ano da década de 60 foi, para Tiber, o solo de guitarra de Jimi Hendrix, reproduzindo o hino nacional americano em Woodstock na manhã de segunda-feira, atração derradeira do evento. Bandana cor-de-rosa na cabeça, bata azul-e-branca e imensos brincos dourados, o artista sintetizava o horror e o nonsense do Vietnã com sua arma mais cara. "A música de Woodstock, a guitarra de Jimi, eram humanistas. Seus temas centrais eram esperança e amor", diz Tiber. Mas, para os protagonistas da grande aventura musical dos anos 60, o que ficou de Woodstock? "Bem, eu fiquei. As pessoas ficaram. Recebi vários e-mails de jovens dizendo que minhas memórias os inspiraram", revela o autor de "Aconteceu em Woodstock".

Já Lang, que acaba de lançar "The Road to Woodstock", crê que a revolução de costumes dos anos 60 não desapareceu com os yuppies e o mundo corporativo. "Ao contrário, nossa mensagem frutificou. O fato de que temos um presidente negro na Casa Branca, o movimento ecológico e a ênfase na alimentação orgânica mostram que essa identidade nascida no tempo de Woodstock está mais viva do que nunca", repete, tal qual um mantra, nas aparições para o lançamento de seu livro de memórias.

Para os protagonistas da história de Tiber é na transformação pessoal que o ideário de Woodstock deixa sua marca mais forte. Ele encerra seu livro escrevendo que a música o ajudou a descobrir quem de fato era. Como se vê no filme de Lee, os bastidores de Woodstock foram o cenário de processos de liberação intensos.

Wayne Rodgers - um dos personagens mais engraçados do documentário "Woodstock" (1970, vencedor do Oscar em 1971), em que aparece saindo de um banheiro químico e oferecendo maconha para a equipe de filmagem - conta em recente entrevista que viajou de carona em um caminhão repleto de pêssegos e laranjas para acampar com milhares de hippies na versão Costa Leste do Verão do Amor. Depois de trabalhar como ajudante de palco de Joan Baez, mudou-se para as montanhas da Virginia, em uma cidade também de nome Woodstock ("mas nada a ver com a de Nova York, aqui há muitos republicanos"). Lá, Rodgers se voltaria para a luta contra a invisibilidade da pobreza americana, sendo reconhecido por seu trabalho nos rincões dos EUA com a ONG Coalizão contra a Fome.

Um dos mais interessantes projetos de memória da cultura popular nos Estados Unidos, o The Woodstock Memories Project, iniciativa do "The Poughkeepsie Journal" e do site Footnote.com, vem amealhando, além de uma impressionante coleção de jornais locais, depoimentos de pessoas que viajaram ao condado de Sullivan para os três dias de farra musical. Em um deles, Michael Gabrielli lembra que chegou a Woodstock no seu jipe azul fabricado em 1962, inteiramente decorado com flores pintadas, na quinta-feira. E, até o fim do evento, o jipe ficou estacionado atrás do palco. "Com o passar dos anos, enquanto a maioria dos pais se orgulhava de seus filhos serem doutores ou advogados, minha mãe sempre contava, cabeça erguida: "Meu filho Michael estava em Woodstock", escreve.

Tiber ainda se emociona com depoimentos de anônimos sobre Woodstock. Mas diz que ele e Lang jamais imaginaram que o festival se transformaria em algo monumental, símbolo da contracultura e apogeu da filosofia hippie de paz e amor, diametralmente oposta à Guerra Fria e à oposição direita e esquerda, um culto à liberdade individual que afetava, de forma indireta, a sociedade como um todo.

Para o autor de "Aconteceu em Woodstock", o festival foi o catalisador que o levou a assumir sua homossexualidade e rumar para a Europa, onde se tornou dramaturgo residente do Teatro Nacional da Bélgica. "Hoje trabalho com o grupo Gay American Heroes, voltado para o combate da violência contra homossexuais. Jovens das metrópoles do planeta veem cidadãos do mesmo sexo aproveitando a noite e andando de mãos dadas em suas ruas e acham que isso é parte do status quo, mas a geração Woodstock apanhou muito para conseguir valer esses direitos. Hoje lutamos pelos direitos civis dos gays, exatamente como a comunidade afro-americana naquela época. Além do direito ao casamento, queremos maior proteção contra crimes hediondos, não apenas nos EUA, mas, por exemplo, em países com grande população de homossexuais, como o Brasil de Carmen Miranda."

Na première de "Aconteceu em Woodstock", no fim do mês em Nova York, Ang Lee pediu a palavra pouco antes do início da sessão: "Quarenta anos atrás Elliot Tiber deu um telefonema. Quarenta anos depois eu finalmente atendi aquela ligação". Woodstock, como se vê, apenas começou. De novo.

domingo, agosto 02, 2009

TERRA: Crise no Senado, lá e cá

Batendo recordes de comentários no Terra Online com reportagem política. Gostei:

De Nova York a Brasília, democracia pan-americana vive crise

31 de julho de 2009 • 07h51 • atualizado às 10h01
Fac-símile da capa do conservador New York Post do dia 24 de junho último que mostra uma imagem alterada do Senado estadual de NY ocupado por ...
Fac-símile da capa do conservador New York Post do dia 24 de junho último que mostra uma imagem alterada do Senado estadual de NY ocupado por parlamentares com rosto de palhaços
31 de julho de 2009
New York Post/Reprodução

Eduardo Graça

Direto de Nova York


Um senador da velha-guarda com métodos políticos para lá de duvidosos. Uma campanha popular para a substituição imediata do comando do Senado, incluindo presidente, vices e secretários. O governo ameaçando não pagar mais os custos exorbitantes das viagens dos legisladores para fora da capital. O jornal de maior vendagem na cidade apresentando em sua primeira página a imagem de senadores no plenário com seus rostos pintados como se fossem palhaços.

Não, o cenário acima não é a terra de Kubitschek. Trata-se do verão nova-iorquino. Albany, a sede do legislativo de Nova York - nos Estados americanos, como no Brasil, os parlamentos locais são bicamerais - virou de pernas para o ar quando o senador Pedro Espada, acusado de corrupção e de receber propina de lobistas, decidiu deixar os democratas a ver navios e se juntar aos republicanos. A correlação de forças do Senado do Estado de Nova York mudou completamente.

Depois que os legisladores democratas decidiram vetar a verba de US$ 2 milhões que Espada - apelidado de Dino, tanto por conta de seus modos pré-históricos de fazer política quanto pela forma física - pretendia usar na capitalização de um plano de Saúde organizado pelo próprio senador, ele simplesmente mudou de lado, deixando o Senado em um empate de 31 votos para situação e oposição e interrompendo por um mês o funcionamento do Legislativo até que se chegasse a uma solução para um impasse.

No que já é considerada uma edição histórica, o conservador New York Post publicou foto em sua primeira página modificando graficamente o rosto dos senadores em plenário: todos apareciam maquiados tal qual palhaços em um estranho circo. Uma das reações mais interessantes - e indignadas - veio do ex-secretário municipal de Comunicações de Nova York, Bill Cunningham.

Cientista político que comandou a campanha de vários medalhões da cena política nova-iorquina, Cunningham escreveu um editorial em que protesta "em nome dos profissionais do circo, especialmente os palhaços. Comparar estes trabalhadores honestos e dedicados com os políticos de nosso Senado estadual é um insulto. Um insulto a qualquer trabalhador de nome Bozo ou Clarabelle. Na verdade, Jerry Lewis, nosso símbolo cômico mais famoso, deveria comandar um protesto em Albany. Estes senadores espertalhões estão jogando o nome de comediantes e palhaços na lama".

Curiosamente, a crise no Senado nova-iorquino somente chegou ao fim depois que o controlador-geral do Estado de NY anunciou que os contra-cheques dos senadores seriam sumariamente cortados, juntamente com vouchers de viagens no valor total de US$ 560 mil. O salário médio de um senador no estado de NY é de US$ 6,7 mil, sem contar os incentivos. A pensão vitalícia ultrapassa os US$ 8,3 mil dólares.

Em editorial, o The New York Times lembrou, em texto duro, que os eleitores não podem esquecer que o Senado estadual será renovado novamente no ano que vem :"E se esta gangue quiser reconquistar seus eleitores, terá de reformar o sistema corrupto que gerou esta crise, a desgraça total do financiamento das campanhas, a falta de disputa real pelas cadeiras do Senado e a completa falta de transparência no exercício do legislativo. Nós não estamos otimistas".

O Instituto Gallup anunciou na semana passada que 48% dos americanos tem uma imagem negativa da presidente do Congresso - e terceira cidadã na linha de sucessão de Barack Obama - a democrata Nancy Pelosi. E que apenas 33% dos eleitores tem uma imagem positiva do Poder Legislativo.

A reportagem do Terra conversou com o cientista político Cristian Klein, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), sobre a crise da democracia representativa que assola o mundo democrático ocidental e as semelhanças entre a crise no Congresso brasileiro - uma das campanhas de caráter político mais difundidas na internet é a "Fora Sarney", que pede a renúncia do presidente do Senado, o ex-presidente da República José Sarney (PMDB-MA) - e o total descrédito dos norte-americanos em relação ao poder legislativo em todos os níveis.

No Brasil e nos EUA há uma clara insatisfação da população com deputados, senadores e vereadores. No México, as eleições legislativas tiveram um recorde de votos em branco. Em Honduras vive-se a maior crise política das Américas. Vivemos uma crise da democracia representativa no hemisfério ocidental?
A democracia representativa sempre foi suscetível a críticas e crises agudas. Vide a Alemanha do entre-guerras, quando o governo da República de Weimar foi solapado tanto pelas armas dos grupos paramilitares quanto pelas idéias de pensadores como Carl Schmitt. O Parlamento, coração da democracia representativa, era visto como um aglomerado de políticos sem brilho e voltado para discussões longas e inócuas. Rogava-se por um líder forte, carismático. Quase todas as crises envolvendo o Legislativo carregam, em certo grau, críticas semelhantes. É o poder em que as decisões demandam mais tempo, mais negociação e cujos membros não representam a maioria da população, mas fragmentos do eleitorado. Na América, continente formado por países que adotaram majoritariamente o sistema presidencialista, o contraste entre um presidente popular e um Parlamento abalado por escândalos pode sugerir um quadro de desolação. Mas é preciso lembrar também que o Legislativo é por princípio um poder mais aberto, mais transparente que o Executivo.

O historiador Alejandro Velasco disse há algumas semanas que o golpe em Honduras foi a primeira conseqüência real de uma luta entre duas visões que vão se tornando homogêneas na América Latina: uma mais à esquerda, outra mais à direita no modelo da Europa Ocidental e dos EUA. Você concorda?
A centralização, o fortalecimento do Executivo, tradicionalmente é um tema mais caro à esquerda do que à direita, pois é o poder cuja fonte de legitimação vem da maioria da população. E cuja intervenção em políticas de redistribuição de renda pode se dar de modo imediato. Mas isso não significa, para a esquerda, que ao chegar ao Executivo ela controle o Estado ou a maioria de seus aparelhos. Como apontou corretamente Poulantzas, o Estado não é um bloco monolítico, mas um campo estratégico. Uma vez que tenha perdido o poder central, a classe dominante pode trocar os lugares de poder real e poder formal, deslocando o centro de decisões de um aparelho para outro, como o Judiciário e o Exército. Honduras parece ser um caso exemplar de como, no limite, a luta política se dá neste campo estratégico.

Há algum novo modelo apresentado aos brasileiros para substituir o atual, com um Congresso desrespeitoso e desrespeitado? Há salvação para o Legislativo no Brasil?
Há quem defenda, de modo radical, a extinção do Senado. Há países que são unicamerais. Mas será que essa é uma opção factível? Se a cada crise, em qualquer casa legislativa do país, a solução fosse defenestrar a instituição, onde iríamos parar? É preciso melhorar a qualidade dos representantes, e mais do que isso, reprimir a cultura política arcaica, nepotista, fisiológica, que ainda persiste. A contínua pressão da imprensa, com a revelação dos escândalos, pode surtir algum efeito sobre o comportamento dos políticos. Mas sem um sistema de punição eficiente, com o fim das imunidades parlamentares, por exemplo, de pouco adiantará.

Especial para Terra

sábado, julho 25, 2009

CARTA CAPITAL/24 de Julho

Segue o drama em Honduras. A teceira reportagem da série para a Carta Capital foi publicada esta semana pela revista, escrita antes da frustrada tentativa de Manuel Zelaya de entrar no país via Nicarágua:

UM ATALHO PARA O CONFLITO

Eduardo Graça, de Nova York

Tempo. Eis o artigo mais valioso na crise que se instalou em Honduras há três semanas quando as Forças Armadas, com aval do Judiciário e do Legislativo, derrubaram o governo constitucional do presidente Manuel Zelaya e enviaram o ex-oligarca travestido de esquerdista, de pijamas, para o exílio. O que parecia ser mais uma quartelada latino-americana revelou-se uma anomalia em um continente aparentemente imunizado contra salvadores da pátria sem mandato popular. Mas se a reação uníssona da ONU, da OEA e de Washington – todas contrárias ao golpe de Estado – não acelerou a volta do aliado de Hugo Chávez ao poder, ao menos parece ter iluminado a discussão em torno da crise das democracias representativas na América Latina.

Na quarta-feira, tanto o governo Micheletti quanto as forças pró-Zelaya rejeitaram a chamada Proposta de San José, elaborada pelo presidente costa-riquenho Oscar Arias. O estadista, vencedor do Prêmio Nobel da Paz, propunha a volta de Zelaya a Tegucigalpa com poderes reduzidos, anistia limitada de seis meses e eleições presidenciais antecipadas para outubro, sem possibilidade de reeleição.

O gabinete de Micheletti só aceita a volta de Zelaya se o presidente concordar em enfrentar os processos judiciais contra ele movidos pela tentativa de alterar a Constituição enquanto no poder. Rixi Moncada, chefe da equipe de negociação de Zelaya, acusou Micheletti de intransigência e de emperrar as negociações em busca de tempo. “Nada aconteceu desde que começamos as conversas no sábado passado. A Proposta de San José fracassou”, decretou.

Nenhum governo reconheceu Micheletti como presidente provisório e na segunda-feira a Comunidade Européia anunciou o corte de 90 milhões de dólares em programas de ajuda humanitária para o país. Recente pesquisa do Gallup mostra que o golpe alavancou a popularidade de Zelaya, que teria o apoio de 46% dos entrevistados, contra apenas 30% para os golpistas. Micheletti é rejeitado por 49% dos hondurenhos. Demonstrando o cansaço da nova administração, o ministro das Relações Exteriores, Carlos Contreras, usou um argumento de péssimo gosto para defender a causa dos golpistas, lembrando que outros países latino-americanos, notadamente o Equador, já viveram situação semelhante no passado e não receberam tamanha condenação da comunidade internacional. “É preciso investigar a manipulação que ocorre na OEA”, disse.

O escritor peruano Santiago Roncagliolo, vencedor do Prêmio Alfaguara por Abril Rojo, uma viagem pelos porões do governo Fujimori, e crítico severo do bolivarianismo, discorda de Contreras. Para ele, com a expulsão de Zelaya, o Judiciário, o Legislativo e as Forças Armadas hondurenhas colocaram em questão a própria definição de democracia.

“Os últimos acontecimentos atacam a credibilidade das democracias liberais e reforçam a popularidade de Chávez. Milhões de pobres e índios constatam que o liberalismo não lhes oferece justiça”, escreveu Roncagliolo esta semana em artigo no El País. O texto une à deposição de Zelaya o vídeo do falecido advogado Rodrigo Rosenberg acusando o presidente guatemalteco Álvaro Colom de seu assassinato, a vitória eleitoral do PRI nas eleições legislativas mexicanas e os conflitos entre líderes indígenas e o governo na demarcação de terras no Peru para afirmar que a realidade abaixo do Rio Grande parece um “filme de James Bond, com o herói lutando contra um temível ditador aliado do terrorismo”.

Roncagliolo usa figuras de efeito fortes. Ao pensar no fortalecimento do Executivo frente os demais poderes, uma das justificativas dos golpistas para a deposição de Zelaya, o peruano defende que o modelo da democracia liberal no continente perdeu qualquer crédito de transparência e legalidade com a população. “Se Micheletti temia um Chávez mais influente em Honduras, ele pode ficar tranqüilo. Agora o venezuelano aumentou sua legitimidade em toda a região”, escreve.

É justamente este fortalecimento do chavismo que tem guiado as conversas de bastidores em Washington. Deputados republicanos já tratam abertamente de sua preferência pela manutenção do governo Micheletti, que seria ameaça menor à democracia do que o próprio Zelaya e questionam a postura da OEA, mais branda com o regime cubano. Mas, curiosamente, a face mais visível nos corredores do Capitólio em defesa dos golpistas é a de Lanny J. Davis, medalhão do Partido Democrata de Maryland, conselheiro especial na Casa Branca nos anos 90 e principal advogado da equipe que defendeu Bill Clinton durante o processo de impeachment. Davis depôs no comitê de Relações Exteriores da câmara baixa do congresso americano em nome de clientes membros da seção hondurenha do Conselho Empresarial da América Latina (CEAL), que reúne lideranças empresariais do continente. Os empresários estão na linha de frente da defesa do golpe.

Do outro lado do flanco, o Comitê de Famílias de Desaparecidos e Presos em Honduras (COFADEH) divulgou um documento denunciando 1.100 casos de abuso contra cidadãos desde a deposição de Zelaya. Entre os crimes estão quatro assassinatos (entre eles o jovem Isis Obed Murillo, de 19 anos, dois líderes sindicais, e o jornalista Gabriel Fino Noriega, baleado quando deixava a redação de sua emissora de rádio em San Juan Pueblo), prisão arbitrária, violência física e censura à imprensa. O chefe da segurança do novo governo é Billy Hoya, acusado de ser o responsável pelo desaparecimento de líderes esquerdistas durante a guerra suja dos anos 80.

Em entrevista na The American Prospect, o jornalista hondurenho Jose Luiz Galdamez, da Rádio Globo, uma das poucas a apoiar Zelaya, conta que teve de se esconder depois que os militares ocuparam a sede da emissora. “Gostaria que lobistas como Davis viessem me visitar para ver como é ser ameaçado não apenas pelo novo governo e pelos militares, mas também pelos empresários e grupos poderosos que ele representa em Washington. Davis está representando os grupos que controlam a grande mídia, o Judiciário e, agora, novamente, o Executivo. Ele está representando o Estado de terror que se estabeleceu em Honduras ”, denunciou.

Os partidários de Zelaya acreditam que a estratégia dos empresários é minar o apoio do governo Obama ao presidente deposto e desviar a atenção da opinião pública dos abusos cometidos em Honduras desde o golpe, afim de ganhar tempo até as eleições de novembro. Por isso o advogado e ativista de direitos humanos Robert Kovalik, que acaba de voltar de Honduras, onde acompanhou um grupo de cidadãos norte-americanos em visita ao país, defende em sua coluna no Pittbsburg Post-Gazette a urgência de se restabelecer a democracia em Tegucigalpa.

Kovalik iniciou uma campanha pública de pressão sobre o governo Obama. Ele pede a retirada dos 600 soldados norte-americanos estacionados no país, a revogação do visto dos hondurenhos que apóiam o governo golpista (o que afetaria a movimentação dos empresários do CEAL) e a remoção – como fizeram todos os países europeus – do embaixador norte-americano de Tegucigalpa. Seu receio é de as virtuais eleições de novembro tragam uma nova complicação para a novela da crise das democracias representativas no continente, com a comunidade internacional tendo de lidar com um referendo eleitoral promovido por um governo fora-da-lei. Um roteiro de luxo para uma aventura de James Bond na América Latina do século XXI.

Perfil/MICHAEL MANN

Escrevi para o Valor Econômico um perfil do diretor Michael Mann, de Inimigos Públicos, que foi publicado na revista do jornal deste finde. Ó só:


O grande gângster
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Los Angeles
24/07/2009

Cinema: Michael Mann, a mente por detrás de "Miami Vice" e "O Aviador", conta agora a história de um mítico bandido na Chicago dos anos 30.

Cabelo claro e ralo sobre proeminente fronte, olhos tão diminutos quanto vivos e uma dicção embolada, Michael Mann não parece interessado em responder às questões na ordem proposta pelo interlocutor. Faz um delicioso sol de primavera nos jardins de um hotel de luxo em Beverly Hills e o diretor de "Inimigos Públicos", que chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira, pergunta, sério: "Alguns atores têm uma receita de takes, você sabia?" Não. "Sim, Al Pacino, por exemplo, com quem fiz 'O Informante'. A atuação decisiva dele vai ser no sexto, no sétimo ou no oitavo take, invariavelmente. Você pode filmar 15 takes, 140 takes, não importa. O tesouro está na sexta, sétima e oitava tentativas. Outros, quanto mais repetem, mais vão abandonando os resíduos de autocrítica, os resquícios de repressão. E outros, com a repetição em demasia, apenas se cansam e nada mais."

A mente por detrás de "Miami Vice" e "O Aviador", por mais paradoxal que pareça, soa, aqui e acolá, como um psicanalista. Termos freudianos, analogias históricas e pensatas sobre economia surgem com frequência no bate-papo com o diretor de 66 anos.

Ele segue falando de forma apaixonada sobre seus colegas de trabalho: "Christian Bale é exatamente como Pacino. Você pode filmar poucos takes e mais ou menos saber onde está o mel. Johnny Depp é diferente. Ele é imprevisível. Algumas vezes o ouro surgia logo no começo, nos quatro primeiros takes. Outras vezes, faltava algo e íamos seguindo até encontrar o que queria. Com Marion Cotillard era um jogo jogado a dois, pois eu me extasiava com ela fazendo todos os takes. Não queria que aquilo terminasse".

Mann: "Para mim, drama é, essencialmente, conflito, e o que me atrai são situações extremas"

Em "Inimigos Públicos" Johnny Depp é John Dillinger, um dos maiores gângsteres da história dos Estados Unidos, um filho da Grande Depressão que se tornou um dos primeiros adversários do FBI. Elegante, boa-pinta, tão genial quanto genioso, ele é apresentado por Mann como um Robin Hood com traços de Clark Gable e um desejo de ascensão social e culto à liberdade individual caro ao ethos americano. Sua maior ambição era juntar dinheiro suficiente para ter uma vida de luxo no Brasil.

O "Batman" Christian Bale vive um insosso, mas persistente, agente Melvin Purvis, dedicado a encerrar o reinado de Dillinger em uma Chicago livre de Al Capone há apenas três verões. Entre um e outro assalto, Dillinger se apaixona por Billie Frechette, filha de índios e colonos franceses, em mais uma impressionante interpretação de Marion Cotillard, vencedora do Oscar de melhor atriz por "Piaf - Um Hino ao Amor".

Quando decidiu levar a história de Dillinger para a tela, Mann pensou nos grandes clássicos policiais e decidiu filmar em película. Mas, meticuloso, resolveu fazer um teste para se assegurar de que aquela era a direção correta a seguir. Colocou dezenas de carros de época em frente do seu escritório, contratou figurantes, trajados tal qual transeuntes da Chicago dos anos 30, e percebeu, na hora de conferir o que filmara, que estava pronto para fazer um filme de época. "E isso era exatamente o que eu não queria fazer", revela.

O cineasta explica: "Com a HD, ao contrário, eliminava o distanciamento intrínseco à película. Em 'Inimigos Públicos' não quero que você sinta que está observando algo que ocorre na década de 30 em Chicago. Quero que você esteja vivendo aquela época, como se você estivesse em cena. Daí meu olhar mais cinema-verdade nesse caso".

Obviamente, viver os anos 30 com os olhos de quem se vê no meio da Grande Depressão do século XXI é uma experiência intensa, até para o mais cínico dos espectadores. Como pontuou Frank Rich em sua página dominical no "New York Times", Bernie Maddoff, a face mais visível dos fora da lei da crise financeira global não é um Dillinger per se. Os estimados US$ 65 bilhões que desapareceram em seu esquema de pirâmide não se aproximam dos mais de US$ 2 trilhões que os contribuintes americanos já desembolsaram nos pacotes de salvamento de A.I.G, Goldman Sachs, Citibank e afins.

Mann vai ainda mais fundo no distanciamento entre os dois personagens, mas mata a charada das gargalhadas vingativas que vinham da plateia na pré-estreia do filme em Chicago, acompanhada pelo Valor: "Madoff não é uma reencarnação de John Dillinger. Ele não tem a audácia ou a estampa do gângster. Mas, se Dillinger vivesse em nossos tempos, ele provavelmente seria um banqueiro. Não seria um assassino, seria um CEO de alguma grande corporação, um magnata de um banco de investimentos, com grande conhecimento dos mecanismos por detrás dos fundos hedge. Ele teria esquemas do arco da velha. E a grande diferença entre ele e os figurões de hoje é que Dillinger jamais seria pego".

Rich lembra que "Inimigos Públicos" não se propõe a fazer um paralelo exato entre os anos 30 e nossa década. "Nem precisa. Mas no livro que inspirou o filme o jornalista Bryant Burrough revela que pesquisas da época mostram que o público aplaudia mais Dillinger do que o presidente Roosevelt ou Charles Lindbergh", escreve. E na campanha pela reeleição em 1936, FDR percebeu o tamanho da onda populista e em seus discursos colocou no mesmo patamar sequestradores, ladrões de banco e os "vilões de Wall Street".

"Em 2009, muita gente que trabalhou duro ainda está sofrendo, enquanto várias figuras que jogaram sujo pagaram muito pouco ou seguiram sem ser importunadas. A minguada satisfação nacional com a condenação de Madoff deveria funcionar como um aviso à Casa Branca. Na maior catástrofe econômica desde os tempos de Dillinger, muitos cidadãos americanos sabem muitíssimo bem que a Justiça ainda precisa ser feita", sentencia o colunista do "Times".

O fascínio de Mann - que cresceu na mesma Chicago que o gângster adotou como palco principal de seus assaltos - por Dillinger e seus agregados nos chega sem nenhuma timidez. Mas a interpretação tão viril quanto delicada de Depp e os tempos que nos circundam acabam por gerar um efeito bem diverso do cruel gângster Frank Lucas vivido por Denzel Washington no filme de Riddley Scott lançado em 2007.

"Não tenho fascínio algum por gângsteres. Não mesmo. Para mim, drama é, essencialmente, conflito, e o que me atrai são situações extremas. Pense em Howard Hughes em 'O Aviador' ou Jeffrey Wigand em 'O Informante', figuras vivendo eventos absolutamente extraordinários", diz Mann.

Talvez percebendo alguma dúvida do repórter, o diretor continua o tiroteio de ideias: "Você pode dizer que minha cinematografia é repleta de policiais, como 'Fogo contra Fogo' e 'Profissão Ladrão', mas o que me interessou foi eminentemente este homem, John Dillinger. Não o fora da lei dos mais habilidosos. O que me interessou foi tentar desvendar o que Dillinger pensava dele mesmo. Vindo de uma família de classe média baixa arruinada pela recessão, ele queria tudo ao mesmo tempo agora. O mundo material, o amor".

Mann era frequentador assíduo, na juventude, do mesmo cinema em Lincoln Park onde Dillinger viu seu derradeiro filme, pouco antes de ser morto pelos agentes do FBI. "Sua última ida ao cinema, que ele adorava, foi para conferir 'Vencido pela Lei', com Clark Gable, e, obviamente, aquilo me faz refletir sobre como Dillinger assistiu, de certa maneira, da poltrona, à própria morte. Sempre fiquei matutando sobre como homens como Dillinger lidavam com a ideia de futuro. Talvez traficantes de drogas, membros de gangues de rua, estejam mais próximos do hormônio à flor da pele, da adrenalina do momento. Mas Dillinger? Tenho minhas dúvidas", comenta, antes de ajeitar o terno acinzentado, acenar com a mão e desaparecer nos corredores do hotel.

ENTREVISTA/JOHNNY DEPP



A Contigo! desta semana chega às bancas com a entrevista que fiz, durante conferência de imprensa, com o adorável Johnny Depp. O astro de Inimigos Públicos, o filme de Michael Mann que já está nos cinemas brasileiros, conversou sobre John Dillinger, o gângster que encarna na tela grande, sua vida pessoal, seus projetos futuros. Segue abaixo, na íntegra, a conversa que tivemos em Los Angeles:

Johnny Depp

Um senhor talento!

Um dos maiores astros do cinema abre o jogo sobre a vida em três países, explica detalhes do novo filme, Inimigos Públicos, e revela o tamanho de suas... intimidades!


Por Eduardo Graça, de Los Angeles


- Você chegou devagar, sentou-se na cadeira lentamente. Esse tempo mais lento é um antídoto contra a loucura da fama?
- Há vários aspectos de minha vida pré-Hollywood de que sinto falta. Ser mas um na multidão, por exemplo. Ser reconhecido na rua é divertido, mas poder levar minhas crianças para uma loja, um restaurante ou a Disneylândia, é inviável. John Dillinger tinha esta habilidade de ir aos lugares públicos sem ser descoberto, como você viu no filme que eu desenvolvi também. Claro, ele tinha outros motivos para não ser reconhecido (risos).

- Uma das cenas mais deliciosas do filme é quando Dillinger entra na delegacia...
- E normalmente pergunta como os policiais estão indo, qual o resultado do jogo, vê os recortes de jornais de sua própria vida na parede e vai embora, sem ser reconhecido. Quem imaginaria que ele iria lá? Na Feira Internacional de 1933, que aconteceu em Chicago, ele pediu a um policial para tirar a foto dele e da namorada.

- Existe algum lugar no mundo onde você poderia fazer o mesmo?
- Sim, numa pequena ilha nas Bahamas onde construí meu refúgio justamente para isso (risos). Lá, ninguém me reconhece, a não ser que eu queria (risos).

- Você também tem uma casa na França e uma em Los Angeles. Aonde é seu verdadeiro lar?
- Temos uma casa no sul da França, minha mulher é francesa, mas a maioria de nosso tempo é passada aqui em Los Angeles, pois as crianças vão à escola aqui. A França me deu o luxo de uma vida mais simples, vivemos no interior e seus dias são mais calmos, não há executivos, agentes, é mais calmo. Mas nos últimos três anos, Los Angeles tem sido nossa casa.

- Dillinger aparece no filme como uma espécie de Robin Hood. Você se identificou com o personagem?
- Sim, muito. Graças a Deus eu não preciso andar com um trabuco no bolso de trás da calça, mas preciso dizer que Dillinger representou na época, quando os bancos eram os inimigos e o governo tinha gente como J.Edgar Hoover, o primeiro diretor do FBI, pior do que a maioria dos criminosos, o herói do homem comum. Ele levantou a cabeça e decidiu que não olharia mais para trás. Vou fazer o que tenho que fazer, juntar um dinheiro, fugir para o Brasil, e tentar não ferir ninguém no processo. Então, não vou negar, eu desenvolvi uma admiração pelo Dillinger.

- Fica a questão ética de que ele era, no fim, um bandido, não um mocinho...
- Depende de nossa percepção. Se eu tivesse de ficar em um recinto desarmado e dar as costas para Dillinger ou Hoover, eu escolheria o Dilinger, estaria mais seguro com ele. O fascínio pelos bandidos passa por nomes como Bonnie & Clyde ou Billy the Kid, que eram homens comuns que enfrentaram o governo. Não são um Charles Manson, por exemplo. São dois grupos diferentes de bandidos.

- Você se doa completamente a seus personagens. Edward Mãos de Tesoura é completamente diferente de Jack Sparrow ou de John Dillinger...
- Isso é um baita elogio, obrigado! É minha responsabilidade encontrar aquele personagem, experimentando algo diferente todas as vezes, algo que o público ainda não viu. O que não quero é entediar a audiência.

- Como foi seu processo de pesquisa para encontrar Dillinger?
- Não havia muitas imagens dele gravadas, nem áudio. O mais próximo que tive acesso foram as vozes do pai de Dillinger. Ouvi com atenção e imaginei aquele fazendeiro do sul de Indiana, numa cidadezinha há 150 quilômetros de onde eu cresci, no Kentucky. Aquilo me deu um clique, o sotaque. Daí pensei que ele falava, que o gestual dele, eram parecidos com os de meu avô.


- Você usou referências de sua própria família...
- Sim. Eram as mesmas raízes, sabe? Nos anos 30, vovô durante o dia dirigia um ônibus e de noite usava o veículo para transportar bebida para os municípios vizinhos na época da Lei Seca, o que não deixa de ser um serviço de utilidade pública (risos). E meu padrasto passou um tempo na penitenciária estadual de Illinois por conta de pequenos erros. Fui juntando estes ingredientes para criar meu Dillinger.

- Você sempre usa música neste processo, não é?
- Sempre, não abro mão disso. Em cada conversa diária que você tem há uma trilha sonora. Seja uma buzina do lado de fora da rua ou o virar das páginas de um jornal. Ironicamente, a música que ficou na minha cabeça durante todas as filmagens de Inimigos Públicos foi Nightmare, do maior clarinetista do jazz, Artie Shaw.Uma música de 1937 que cabia em cada cena do filme.

- Inimigos Públicos também conta uma grande história de amor. Como foi sua interação com Marion Cotillard?
- Na vida de Dillinger, há um momento em que tudo vira secundário, e Billie, sua parceira, passa a ser o foco de sua vida. Quando os dois estavam juntos, era fogo puro. Marion foi perfeita, ela é de uma dedicação única, chegou no set de filmagem meses antes de todos nós para se preparar melhor, pegar o sotaque certo. Ela é espetacular, uma atriz, aliás uma mulher muito, muito especial.

- Marion contou que durante a pesquisa que fez sobre o caso de Dillinger e Billie descobriu que ele era extremamente bem-dotado. Você também chegou ao mesmo resultado na pesquisa?
- Fiz a mesma pesquisa e cheguei a resultado similar (rindo muito). É a mais pura verdade! E sabe o que foi mais sensacional na história toda.

- Diz...
- Temos exatamente o mesmo tamanho! (rindo mais ainda e ficando com a face vermelha).

- Vamos mudar a direção desta conversa? Marion também disse que temia fazer as cenas de amor com você...
- Por causa do tamanho?

- Não! Porque você tinha sido um gentleman desde o primeiro dia, e ela queria que as cenas fossem sensual, mas ao mesmo tempo elegantes. Cheias de paixão mas sem ter que mostrar muito do corpo de vocês dois...
- Entendo a preocupação dela. É que este tipo de cena é crucial em um filme. Costumo dizer que você pode tirar o público da narrativa, eles instantaneamente esquecem do personagem e passam a observar com curiosidade o corpo dos artistas, especialmente aquelas partes (risos).

- Michael Mann diz que foi importante ter você como Dillinger, porque o gângster era um homem de verdade. O que é, para você, um homem com H maiúsculo?
- Sabe o que me fez o homem que eu sou?

- Não...
- Minha operação de sexo (mais risos). Sério, tentando não ser condescendente comigo mesmo, se há algo que sou de fato nesta vida é pai. Mais do que qualquer outra coisa. E, se levar em conta a opinião dos meus filhos, sou um pai decente. E isso é o que eu mais quero como homem com H maiúsculo. Ser um bom pai, ser honesto com os que amo, ser gentil com as pessoas.

- Mas há uma predileção sua por um certo tipo de homem nos filmes, os anti-heróis, não?
- Huum...talvez. Mas acho que não seria um bom super-homem. Não creio que eu fique bem em calças de lycra! (risos).