quinta-feira, novembro 09, 2006

ENTREEVISTA/Leonardo DiCaprio & Matt Damon

A Contigo! publicou esta semana minhas entrevistas com Leonardo DiCaprio e Matt Damon, duas das principais estrelas do divertidíssimo longa de Martin Scorsese, Os Infiltrados, que estréia nesta sexta-feira nos cinemas brasileiros.


Leonardo DiCaprio e Matt Damon
OS DESEJADOS

Por Eduardo Graça, de Nova York


Martin Scorsese confronta os dois - e mais um timaço de astros - em Os Infiltrados, no melhor estilo ''se correr o bicho pega, se ficar o bicho come''


O ator Leonardo DiCaprio, 31 anos, e o diretor Martin Scorsese, 63, engataram um romance profissional em Gangues de Nova York, filme dirigido pelo baixinho do Queens em 2002, com o galã baby face como um dos protagonistas, e desde então têm se relacionado muito bem, obrigado. A parceria rendeu também O Aviador (2004), pelo qual DiCaprio foi indicado ao Oscar de melhor ator e Scorsese de melhor diretor (nenhum dos dois levou a cobiçada estatueta para casa) e agora o sensacional (e violento) Os Infiltrados, que estréia sexta (10).

Mais sarado, DiCaprio leva as mulheres à loucura como o policial irlandês Billy Costigan - mesmo urrando um quilo de palavrões e sendo surrado igual a um saco de pancadas. Além de bonitão, ele manda muito bem.

Dois Leos num só
Pena que sua versão em carne e osso seja tão insípida e nada simpática, pelo menos em público. Taciturno, mais sério do que Matt Damon, 36, seu negativo no filme (ele faz o policial Colin), Leo, como é chamado pelos colegas, se veste como um galã fashion: camisa preta sob um terno igualmente negro e cabelo curto máquina 1 igualzinho ao do seu personagem no longa. E não responde a nenhuma questão pessoal.

Paraíso em Miami

Já Damon, mais relaxado, contou como levou vantagem em relação aos colegas na filmagem, uma vez que cresceu em Boston (locação do filme) e não precisou aprender o sotaque da cidade. O ator vive hoje em Miami e diz que sua casa é "o melhor lugar do mundo" - ele vive com a mulher, a ex-garçonete argentina Luciana Barroso, e as duas filhas, Alexia, 8 anos (filha só de Luciana, mas que ele adotou), e Isabella, 4 meses. A seguir, trechos da entrevista com os dois.


Leo, o sisudo


Como foi dividir o set com Jack Nicholson?
Foi sensacional! Ele é completamente imprevisível. Em várias cenas eu não sabia o que ia acontecer. Lembro-me do Jack dizendo que seu personagem deveria ser mais durão comigo (risos). No dia seguinte recebi um aviso: "Leo, toma cuidado. Jack trouxe para o set um extintor de incêndio, uma arma, caixas de fósforo e uma garrafa de uísque" (risos). Ele é um dos maiores atores vivos. E me ajudou a construir um personagem que passa 24 horas em pânico.

Foi você quem decidiu que iria fazer o mocinho no filme?
Cá entre nós, eu queria mesmo era fazer o personagem do Jack (Nicholson - um gângster violentíssimo).

Seu personagem é um rapaz durão, violento mesmo...
Pois é, bem diferente de tudo o que já fiz nas telas. Não existe essa coisa de reagir de modo violento em minha vida. Por isso Billy me interessou.


Matt, o falante


Como entrou no projeto de Os Infiltrados?
Brad (Pitt, um dos produtores do filme), Leo e eu estávamos relaxando numa sauna! Só estou contando isso porque acho importante os momentos em que os grandes projetos nascem (risos). Não, sério, Brad me contatou e eu disse que seria um sonho participar do filme. Foi o sim mais fácil da minha carreira!

Queria fazer o mocinho?
A gente decidiu no cara e coroa! (risos). Acho que nós dois adoraríamos fazer qualquer um dos personagens. Mas, vendo o filme, não me imagino no papel do Leo.

Como foi o laboratório para viver o policial Colin?
Mergulhei na subcultura dos policiais locais e os acompanhei em algumas operações de apreensão de drogas e prisão de traficantes.

Não foi perigoso?
Não. Sabia que estava seguro, pois eles levaram duas vezes mais policiais do que o padrão. E fiquei na retaguarda, com um colete à prova de balas.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Diretinho da Redação (49)


Acaba de entrar no DR a coluna da semana, sobre a vitória dos democratas e a nova divisão de poder no Congresso norte-americano.

MUDANÇA DE ARES NOS EUA


Eduardo Graça


Foi uma noite e tanto. Depois de uma mobilização impressionante, com militantes batendo de casa em casa e carregando eleitores pelas mãos até os postos de votação, os democratas conquistaram uma vitória substanciosa nas eleições de ontem para o Congresso e o governo de boa parte dos estados da federação. A derrota de George Bush era esperada mas os resultados revelaram mais do que o cansaço dos americanos com a lambança da ocupação do Iraque, cujo epílogo foi a renúncia do secretario da Defesa, Donald Rumsfield. Mais da metade dos raivosos eleitores disseram que votariam contra a cultura da corrupção, dominante em Washington, ecoando a histórica capa da revista Rolling Stone, que na semana passava apontou sem dó os ‘dez piores congressistas da pior legislatura da história da república’. Nove eram republicanos _ dois deles ficaram sem mandato.

As conquistas da oposição não foram poucas. Pela primeira vez um candidato socialista foi eleito para o senado (no estado mais gauche do país, Vermont). Sob o controle dos republicanos há uma década, Massachusetts mudou de lado com gosto: elegeu por larga margem o democrata Deval Patrick, o segundo negro a comandar um estado do país desde que os afro-americanos conquistaram no braço o direito de ir às urnas na chamada Reconstrução dos anos 60. A Câmara dos Representantes contará com a primeira mulher em seu comando desde a independência, a liberal Nancy Pelosi, de São Francisco. E em Nova Iorque a lavada da oposição incluiu vitórias na casa dos 70% para a senadora Hillary Clinton e o novo governador Elliott Sptizer, que encerrou 12 anos de domínio conservador em Albany, tornando-se uma liderança importante a ser considerada no xadrez político de 2008.

Mas a vitória dos democratas, comemorada pelos militantes ao som de Start me up, dos Rolling Stones, não se traduz em um avanço da agenda progressista nos EUA. Pelo contrário. O nordeste do país, é fato, ficou mais democrata, exatamente como o sul ficara ostensivamente republicano em 1994 (e assim permanece). Os novos democratas são, em sua esmagadora maioria, social-conservadores, gente como o xerife Brad Ellseworth de Indiana e o fazendeiro Jon Tester, senador de Montana, ferrenho defensor do direto de os cidadãos portarem armas. Ou o virtual senador eleito em Virgínia, Jim Webb, que serviu no primeiro escalão do governo Reagan. Todos são contrários ao casamento entre homossexuais e ao direito ao aborto, e favoráveis a uma retirada lenta e gradual do Iraque. Darão uma nova face ao partido do senador negro de Illinois, Barack Obama, um dos nomes cotados para a sucessão de Bush.

O que se aprende da aventura eleitoral de 2006 é que os republicanos foram tanto para a direita que os independentes – gente que não se identifica com nenhum dos dois partidos dominantes no cenário político do país – votaram em bloco, de maneira inédita, com os democratas. Se a aliança conservadora criada por Reagan na segunda metade dos anos 70 era calcada na moral e nos bons costumes, as hostes de Clinton, Obama e Pelosi acenam com um outro grande consenso, aparentemente mais sofisticado, pavimentado pela defesa da ética. Resta saber se os democratas, de volta, de modo triunfal, ao comando do Congresso, seguirão com as mãos limpas até a grande batalha de 2008.

domingo, novembro 05, 2006

Desserviço Provinciano

Muito bom o artigo da professora e querida amiga Maria Luiza Franco, sobre a visão desenvolvimentista às avessas imperante no cenário político brasileiro desde a primeira eleição de FHC, que nos leva a situações asfixiantes como a demonstração de força desesperada dos controladores de vôo esta semana em todo o Brasil. Vale a leitura:

Desserviço provinciano
Maria Luiza Franco
Jornalista, mestre e doutoranda em Semiologia pela UFRJ.

Os tucanos chegaram firme no governo com o projeto de modernizar o país.A chamada grande imprensa saudou a entrada do Brasil no circuito das nações do “Primeiro mundo”.

Privatizaram o patrimônio público sob o aplauso e apoio de matérias e editoriais.Adotaram o consenso de Washington com seu superávit primário anunciado com sorriso, cada vez mais largo, sempre que aumentava o percentual de retração da economia. E na esteira dessa visão desenvolvimentista às avessas, aeroportos foram ampliados e repaginados para servir de carta de apresentação de um país que passou a ser sem ter sido.

No faz-de-conta, obviamente não estavam computadas as questões relativas ao elemento humano.Aliás, essa é a lógica do ótimo do Pareto, aquele economista que esquadrinhou matematicamente a sociedade ‘ótima’, e problema de quem não se encaixasse nela. Três leitos, quatro doentes, a sorte está lançada e quem chega por último que se arranje.Porque a sociedade ideal é imexível. Essa dolorosa experiência foi naturalizada pela chamada grande imprensa e tratada como necessária ao processo de desenvolvimento do país.

A aviação comercial não escapou dessa arquitetura e muito menos da mesma perspectiva provinciana e irresponsável da chamada grande imprensa. Provinciana porque baba na gravata por qualquer sinal emitido pelo mercado regulador transnacional, e irresponsável porque incentiva a irritação dos passageiros enaltecendo a condição de consumidor que tudo pode na relação primária do pagou-passou.
A mentalidade do poder ilimitado do indivíduo-cliente chega agora ao transporte aéreo, só que nessa dimensão o buraco é muito mais em cima. Avião não é ônibus, e a massa de cidadãos que hoje acessa esse meio de transporte precisa ser esclarecida sobre as profundas diferenças entre os dois modos de locomoção, em lugar de ser estimulada a brandir seu direito de consumidor acima de qualquer segurança que passa, sim, pelas condições de trabalho dos controladores de vôo.
Esses profissionais são os responsáveis pelo tráfego aéreo. São os olhos dos pilotos. Conduzem os aviões a partir do solo, e não foram incluídos no projeto de modernização do país que o tucanato comprou de fora e reescreveu para dar uma versão ainda pior, versão essa que a chamada grande imprensa sustentou com manchetes e chamadas positivas.

No dito ‘Primeiro mundo’, os passageiros têm experiência no trato entre direito e limite do consumidor. No aeroporto de Heathow, em Londres, Inglaterra, é recorrente a espera de até três horas dentro de uma aeronave à espera de autorização para a decolagem. É claro que ninguém gosta, mas as condições de tráfego são essas e deve-se cobrar dos especialistas as alternativas para contornar o problema. No monumental Charles de Gaulle, de Paris, França, também não é incomum ficar três horas na sala de embarque e mais tantas seis dentro de um avião até que melhorem as condições do tempo e o piloto receba permissão para decolar. Como não há espetáculo da mídia, por muitas razões que valem outro artigo, ninguém se anima a protagonizar um papel que só interessa a uma imprensa para qual democracia significa tão somente a liberdade ditatorial do mercado temperada pelo reconhecimento do Direito do homem que de espectador passou a ser, também, o agente propagador dos sentidos emanados pela mídia. Haja vista a cobertura do acidente da Gol. Mais uma vez a chamada grande imprensa não se ocupou de esclarecer, mas de transtornar ainda mais os sentimentos já à flor-da-pele. É preciso informar que no meio da aviação as causas dos desastres aéreos são apuradas com o objetivo de garantir que os acidentes não se repitam, e não com o propósito de punir ou de fornecer subsídios para ressarcimento.A razão parece óbvia. A ordem de grandeza dos componentes envolvidos num acidente de avião costuma contabilizar mais mortos do que vivos.Mas não foi assim que o assunto foi tratado.Punir e cobrar foram a tônica das coberturas no melhor estilo da sociedade do controle e de mercado.

Agora, a irresponsabilidade se repete, sensacional e sem esclarecimento na delicada situação que envolve os controladores de vôo. De fato, parodiando o astronauta da Apolo 13, "Cidadãos, we have a problem".