sexta-feira, outubro 07, 2005

Ti-ti-ti (com Ivson Alves)

Amigos,

Ti-ti-ti é o que o nome sugere: um papo informal com gente, daqui e daí, que pensa, escreve e tem algo a dizer.

A estréia é neste segundo com o jornalista Ivson Alves, que, além de muitas outras coisas, criou em 1996 o site ‘Coleguinhas”, um dos pioneiros no jornalismo interneteiro no Brasil. Para quem não sabe, ele pode ser encontrado facinho, facinho, no blog ‘Picadinho”, garantia de boa informacão na rede.

Quer saber mais sobre ele? Vai lá, mané: http://www.coleguinhas.jor.br/picadinho.html


e: Vota SIM ou NÃO no dia 23?

i: Voto sim.

e: Quem resolveu buscar na imprensa brasileira uma orientação sobre
como votar no plebiscito saiu feliz da vida ou mais perdido que cego em
tiroteio?

i: Deve ter ficado puto, pois não conseguiu encontrar um debate real, com argumentos de um e de outro lado.

e: O projeto de transposição do São Francisco é a Transamazônica do
Lula?

i: Como vou saber? Ninguém bota os dois lados da questão. Só sei que ouço essa idéia tem pelo menos uns 30 anos e, pelo que entendi até agora, tem uma parte que nem é contra o projeto totalmente, quer apenas que ele leve mais tempo, havendo uma revitalização do rio primeiro, para depois modificar-lhe o curso.

e: E este Bispo Cappio, hein? Está mais para herói dos sertanejos ou para instrumento político de ACM?

i: Mais uma encarnação do messianismo típica do Nordeste - Padim Ciço, Frei Damião... - usado como arma política pelos poderosos de sempre.

e: Lula, nosso guia ou rei do trambique?

i: Um brasileiro comum que, como brasileiro comum, não entende os mecanismos do poder.

e: Remoção de favelas ontem, esterilização dos pobres hoje, o que está acontecendo com a direita festiva carioca?

i: Não tenho idéia. Não faço parte da corrente. Experimenta perguntar pro Millôr.

e: Denise Frossard ou Rosinha?

i: Passo.

e: Hillary ou Condoleezza?

i: Dureza...Hillary, mas só pra contrariar o Bush.

e: Castro ou Chavez?

i: Castro. Práxis muito superior

e: Os americanos agora estão chiando por conta da nova legislação venezuelana, que obriga as estações a tocar música produzida no país. A fiscalização é intensa e gente como Simon Diaz, que estava esquecida, voltou às paradas. Acha que responsabilidade social passa pela determinação do que deve ou não tocar no rádio?

i: Não, mas passa por determinar uma cota razoável - uns 35, 40% -, pois não dá pra encarar a indústria cultural americana na cara limpa.

e: Uma nota, maestro, para a política externa do governo Lula. E explica um tiquinho seus critérios.

i: Nota Oito. Ela procura um caminho próprio, diversificando parceiros, na política do "nunca segurar apenas numa Alca só". Não leva Dez, nota Dez, pela mania de "liderança". Como entre gente, liderança não se impõe também em política internacional.

e: Os blogs políticos são uma realidade por aqui e são vistos como meio importantíssimo nas eleições de 2008. E aí em Lulalândia? Eles terão alguma importância no pleito do ano que vem?

i: Cê só pode tá de sacanagem. Só uns 10% da população tem acesso à Internet e 90% desses tem como maior exercício intelectual escrever scraps no Orkut.

e: Qual foi a mais recente epifania que você viveu a partir de uma obra de arte produzida em 2005?

i: Produzida? Nenhuma. Mas lida, agora, "Fronda dos Mazombos", de Evaldo Cabral de Melo.

e: O peão gay se assume em ‘America’?

i: Não vejo novela. Não é pernosticismo não. Prefiro a Série B do Brasileiro, onde o Náutico vai bem, e as séries do Universal Channel.

e: E a esta altura do campeonato, o que você faria com o corpo de Lênin?

i: Botaria em praça pública e levaria crianças para elas verem que houve tempos em que os homens viam que o mundo estava indo pro brejo e faziam algo a respeito para impedir.

Diretinho da Redação (32)

O texto abaixo já pode ser lido no Direto da Redação (www.diretodaredacao.com)

TOLERÂNCIA ZERO COM O PREFEITO MALUQUINHO

Nada mais desigual. Enquanto o prefeito César Maia resolve desenterrar a idéia fascista de remoção de populações inteiras das favelas cariocas, por aqui a campanha municipal esquenta com o republicano Mike Bloomberg ostentando uma arma poderosíssima na luta pela reeleição: o índice de criminalidade nunca esteve tão baixo em Nova Iorque.

Na semana passada, aqui no Brooklyn, ele comemorou com uma platéia atenta o fato de que ‘nós somos a metrópole mais segura da América”. É claro, você vai me lembrar que tudo isso começou com Rudi Giuliani, o prefeito conservador que fechou sex shops, acabou com o vale-tudo da Rua 42 e cunhou um termo para as prisões em massa com pesadas penas dadas aos infratores: a tal da tolerância zero. De fato, Giuliani se elegeu com uma plataforma que esculhambava com a política de segurança do alcaide da vez, o negro democrata David Dinkins, perdido em uma batalha aparentemente sem fim contra a epidemia de crack na cidade.

Com Giuliani, o tráfico realmente deixou as ruas, mas para se confinar nos projetos habitacionais, e nunca tantos negros foram passar uma temporada no xilindró. Afinal, só entra para o ramo das drogas quem está nos patamares mais baixos da economia local. O republicano foi canonizado no exterior e é uma das possíveis opções do partido situacionista para a sucessão de Bush, mas os efeitos colaterais de sua política do ‘big stick’ local, copiadas da costa leste à Califórnia, são chagas ainda não cicatrizadas aqui na Big Apple.

O numero de adolescentes confinados para sempre na cadeias americanas é o maior do mundo – um dado que envergonha o país – e as tensões sociais criadas pela tolerância zero levaram o Harlem e os cafundós do Queens, do Bronx e do Brooklyn a uma sensação de segregação que não se via desde os anos 60. Quando um judeu ortodoxo apanhou mais do que Judas em sábado de Aleluia depois de atropelar um estudante negro em Crown Heights e, meses depois, seis brancos lincharam um negro no Queens em frente a um bar, a rica fauna de Park Avenue absorveu estas tragédias como ‘seqüelas inevitáveis’ de uma cidade de 8 milhões de habitantes e mais de 50 nacionalidades diferentes. Coisas da vida. Dos outros, é claro.

Bloomberg, um republicano de última hora, que só abandonou o Partido Democrata para conseguir legenda, pensa diferente. Sua estratégia, em um primeiro momento, parecia suicida. Ele reduziu o número de policiais, diminuiu o orçamento e a munição da polícia, concentrando sua ação nas áreas mais conflituosas, na chamada “Operação Impacto”. No entanto, desde que ele tomou o poder, os crimes reduziram em 20% . Mais: uma pesquisa acaba de mostrar que 53% dos negros aprovam a atuação de sua polícia, contra 21% no caso de Giuliani.

Semana passada o alcaide bilionário andava tranqüilamente pelo Harlem, uma área tradicionalmente hostil a políticos conservadores. Bloomberg lembrava os eleitores de que seu principal investimento na corporação foi em inteligência e tecnologia: hoje a polícia nova-iorquina mapeia melhor a cidade, identifica mais rapidamente as ameaças, conhece melhor os criminosos. As ligações para o 911 são agora todas digitalizadas – e usadas como evidência nos tribunais – , o uso de testes de DNA para evitar injustiças baseadas em preconceitos raciais é corriqueiro, e foi criado o ‘real time crime center’, que envia informações sobre suspeitos em tempo real, quase igual ao que se vê nas séries de televisão.

É claro que este é um investimento maciço de dinheiro que cidades como o Rio de Janeiro talvez não pudessem arcar. Mas quem disse que Nova Iorque tinha tudo isso em caixa? No exato momento a administração republicana projeta para 2006 um déficit de US$ 6 bilhões. Seus moradores, sentindo-se muito mais seguros, não parecem estar nem aí.

Com um índice de aprovação que beira os 70%, Bloomberg pensa agora em integrar mais os projetos habitacionais, aumentando as opções de transporte público e deslocando policiais para as escolas em que a população de renda mais baixa matricula seus filhos. Como se vê, até mesmo para um político conservador e com um terrível cacoete de desrespeitar as liberdades civis como Bloomberg, é possível executar uma política de segurança racional e efetiva ao mesmo tempo em que se combate o apartheid social. Tolerância zero com o prefeito maluquinho, minha gente!

Deda & Zuenir

Hoje o Correio me trouxe uma surpresa deliciosa: uma edição de sábado do jornal "Público", de Portugal. Lá dentro, na capa do suplemento-cabeça 'Mil Folhas', uma entrevista sensacional da querida amiga Andréia Azevedo Soares com seu colega Zuenir Ventura. Uma conversa carinhosa, animada, repleta de informação e que ocupa quatro páginas, destas que a gente raramente vê nos cadernos culturais dos jornais brasileiros.

Infelizmente, o bate-papo, ilustrado por imagens clicadas pelo fotógrafo Pedro Vilela, não está disponível na rede. Mas...a Deda, colega de outros tempos de outro 'Jornal do Brasil', pode ser encontrada a um clique do mouse em seu blog "Notícias do Cais", diretamente de Porto, Portugal:

www.noticiasdocais.blogspot.com

quinta-feira, outubro 06, 2005

Una Republica Bananera

O indispensável poeta argentino Juan Gelman desceu a lenha no governo norte-americano em artigo hoje no jornal argentino 'Pagina 12'.

Algumas tiradas:

* se um país se torna uma República das Bananas pelo tamanho de sua corrupção, os Estados Unidos são membros honorários do clube. Nada menos do que 273 ex-funcionários públicos deixaram seus postos entre 1998 e 2004 e conseguiram fechar contratos acima da casa dos milhão de dólar com a Casa Branca.

* o número de lobistas em Washington nunca foi tão grande: são 4.600 escritórios dedicados à prática de convencer legisladores, o Executivo e o Judiciário, de que suas idéias são as melhores. Para quem, é a questão mais capciosa, lembra Gelman.

* pelo menos cinco figurões ligados ao governo Bush respondem a procesos judiciais e foram afastados do poder por conta de corrupção.

O artigo, infelizmente apenas em espanhol, pode ser lido na íntegra em

http://www.pagina12.com.ar/imprimir/diario/contratapa/13-57506-2005-10-06.html.

segunda-feira, outubro 03, 2005

O Maravilhoso Mundo do Design

www.wmwmwm.com



O site do meu parceiro William Morrisey, reunindo sua produção mais recente e suas invencionices geniais já está no ar.

Eu sou mais do que suspeito - mas acho que vocês deveriam ir lá no http://www.wmwmwm.com/

Vale o passeio.

Santa Sinead do Reggae




"Throw Down Your Arms" - quando o reggae ganha um charme para lá de celta







Depois de uma entrevista nervosa à "Mojo" de outburo, Sinead O'Connor, a própria, foi destaque no caderno de Artes do "The New York Times" de hoje. Depois de ser ordenada 'sacerdotisa' por um dissidente da Igreja Católica e anunciar que jamais voltaria a gravar um disco de música, a irlandesa acaba de lançar "Throw Down Your Arms", inteiramente dedicado ao..reggae!

Pois o que poderia ser o dancehall da irlandesa maluca é um achado. O crítico Ben Ratliff, do NYT, chama o disco produzido por Sly Dunbar e Robbie Shakespeare de uma deliciosa surpresa.

- É conciso e elegante, com uma economia de sopros e de elementos característicos do ritmo. Seu sotaque irlandês e sua óvia crença no que canta fazem de "Throw Down Your Arms" uma obra-prima de interpretação pop.

Ou seja, a moça conseguiu mesmo traduzir no estúdio sua concepção de reggae - música popular para se rezar.

Quem quiser ter uma idéia do som, basta ir lá no http://www.scissorkick.com/2005/08/sinead-oconnor.html e baixar 'He Prayed", uma versão caprichadíssima de Burning Spear, que oferece quase metade dos clássicos revistos por Sinèad.

domingo, outubro 02, 2005

Tracy Chapman & America

Tracy Chapman, voz negra da América Contemporânea


Parece que foi ontem, mas lá se vão dezessete anos desde que aquela menina bochechuda, dos subúrbios da Nova Inglaterra, invadiu os aparelhos de som do mundo todo com seu violão afiado, uma voz poderosa e letras fortes em músicas como 'Talkin' Bout a Revolution", "Across The Lines", a grudenta "Baby Can I Hold You" e sua obra-prima, a delicada 'Fast Car".

Mês passado, Tracy voltou a pegar pesado com a América em seu "Where You Live". Não chega nem perto do discaço de 1988. Mas uma das faixas mais lindas, batizada apenas de "America", diz, em meio a fúnebres batidas afro, que "nós estamos cansados e de saco cheio, famintos e pobres, porque vocês ainda estão conquistando a América'".

Depois do que aconteceu em Nova Orleans, o timing de Chapman não poderia ser mais exato. Ela soa como um dedo apontado na cara de um país dividido e miserável.

Para ouvir "America", cá entre nós, basta ir lá no http://www.streetknowledge.net, um ótimo site-cabeça de uns amigos que adoram boa música. A foto de Tracy, que ilustra o post, é deles.