sexta-feira, julho 29, 2005

Lá Como Cá

Deu no NY Times. O embaixador da Coréia do Sul nos Estados Unidos, Hong Seok Hyun, anunciou sua renúncia ao cargo. O motivo? Denúncias envolvendo o diplomata na arrecadação ilegal de fundos para a campanha presidencial da Coréia em 1997.

Plebiscito é Golpe

Na mesma reunião da ABI, segundo O Globo, a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL), disse que ‘se as apurações alcançarem o presidente, é a favor de um plebiscito para antecipação das eleições'. Não entendi.

Ora, se as investigações – seja na CPI, seja na Polícia Federal – envolverem diretamente Lula cabe ao Congresso Nacional iniciar um processo de interrupção do mandato do presidente, com todo direito à mais ampla defesa. Tudo nos conformes, como manda o figurino de um país democrático em que as insitituições, apesar de tudo, têm funcionado bem. Foi assim na crise de 1992 e o país continuou seguindo sua vida normalmente.

A senadora ecoou o equivocado artigo desta semana no Jornal do Brasil do ex-deputado Milton Temer, agora no P-SOL, em que este defendia a tese do referendo popular para decidir se Lula deve ou não terminar seu mandato. Pensar em plebiscito é uma avenida de mão dupla: ao mesmo tempo em que se embarca no discurso golpista de interrupção do mandato de um presidente eleito por 52 milhões de cidadãos - em um desrespeito que revela uma cara-de-pau sem tamanho - também se coloca mais lenha na fogueira de que o Legislativo carece de legitimidade.

Mas revela também um velho cacoete de nossos políticos: o de jogar por fora das regras democráticas – seja recebendo jabá para campanha política, seja aprovando reeleição em benefício próprio, seja querendo 'ouvir as massas' nas questões por eles consideradas de ‘emergência nacional’. Este sim é um mal que precisa ser cortado pela raiz. E os que pretendem estar trazendo o novo à cena política nacional, especialmente estes, já deveriam ter aprendido a lição.

Fraude Histórica

A frase veio de um político que não me cansou de decepcionar. Mas é a mais exata até agora sobre o filme de terror que se transformou a esquerda brasileira. “O PT é uma fraude histórica”, disse o deputado-federal Roberto Freire (PPS-PE), na manifestação dos partidos progressistas ontem na ABI, no Rio. Como discordar do neo-comunista?

quinta-feira, julho 28, 2005

De Mulher Pra Mulher

Do blog Coleguinhas, Uni-Vos!, do amigo Ivson Alves, em http://www.coleguinhas.jor.br/picadinho.html:

O próximo alvo da Veja é a Dona Marisa, mulher do Nove-Dedos. A revista está urdindo matéria segundo a qual ela teria feito compras com cartão de crédito de uma empresa do Marcos Valério. O problema é que até agora a revista do Civita ainda não encontrou qualquer indício para afirmar tal coisa, mesmo contando com o apoio de toda a tropa de choque tucano-pefelê trabalhando horas e horas nas últimas duas semanas. Mas mesmo que não ache nem o mais leve indício, a revista deve publicar algo neste sentido em breve, pois é essencial atingir o N-D no seu esteio mais forte, que é a família, especificamente a sua companheira. Isso, pelos cálculos da oposição tucano-pefelê, faria com que N-D ou ficasse cego de ódio, reagindo descontroladamente, ou caísse em depressão, deixando o barco à deriva. De qualquer maneira, ficaria em desvantagem séria na hora de reagir a um pedido de impeachment.

O Lapso de FHC

De Jânio de Freitas, na Folha de S.Paulo de hoje:

(...) meu colega Marcelo Beraba me chamou a atenção para este lapso anunciador de Fernando Henrique Cardoso, ao saber da descoberta de envolvimento do PSDB com Marcos Valério: "Precisamos investigar tudo mas sem perder o foco de que a crise é hoje. O que aconteceu no passado, no meu governo, é coisa da história". A descoberta só era relativa à sucessão no governo de Minas em 98. Fernando Henrique entregou logo o seu governo como outro manancial para descobertas.

a coluna de Jânio pode ser lida em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc2807200504.htm

Os Donos do Poder

De Demétrio Magnoli, na página de Opinião da Folha de S.Paulo de hoje:

Lula encarna a tradição do patronato político brasileiro. Vezes sem conta, o presidente definiu a nação pela metáfora da família, na qual ele desempenha o papel de pai provedor, governando com o coração e zelando por todos os filhos, sobretudo os mais fracos. Governar é distribuir privilégios seletivamente: eis o conceito arcaico que emana do pensamento do presidente.


O texto completo pode ser lido, para assinantes do UOL ou do jornal paulistano, em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2807200507.htm

quarta-feira, julho 27, 2005

Diretinho da Redação (23)



O texto abaixo pode ser lido no www.diretodaredacao.com


Todo Mundo Faz!

Um pouco de História sempre cai bem. Ainda mais História recente, recentíssima. Em 1988, um grupo de parlamentares do PMDB, descontente com os rumos da sigla de Ulysses Guimarães e assustado com a aliança perpétua com o PFL - revelada de forma mais crua no chamado “Centrão” – decidiu fundar um novo partido. Escolhem o tucano como símbolo e criam o PSDB. Dez anos antes o PT fora criado para fugir das tradições autoritárias do velho PCB e para pregar um socialismo libertário, feito para e por trabalhadores. A idéia era provar que os dois partidos não faziam o que todos fazem e, coincidência ou não, nos últimos 14 anos, desde a crise do governo Collor, PSDB e PT vêm dominando, de São Paulo, a cena política nacional.

Tá bem, deu no que deu. O PSDB, igualzinho ao PT agora, provou das benesses do governo federal e saiu manchado. Aliou-se ao mesmo PFL e dedicou-se em demasia a tenebrosas transações feitas com Valérios dos mais variados quilates. Só a campanha para governador do atual presidente do partido, senador Eduardo Azeredo (MG), embolsou R$ 11,7 milhões via caixa dois. E isso em 1998. A reação do tucanato às denúnicas – que envolvem outros mineiros conhecidos, como o ex-ministro Roberto Brant e o atual governador Aécio Neves - é a mesma do petismo: “todo mundo faz”.

PT e PSDB são hoje, fósseis andantes, mortos-vivos que se alimentam de um fiapo de esperança que a sociedade brasileira ainda teima em depositar na conta de seu futuro político. A saída, única, viável e possível, é uma união de gente de bem deste país – os 21 deputados da esquerda petista, o PSOL de Heloísa Helena, exceções como Fernando Gabeira, Denise Frossard e Jefferson Peres – em uma nova agremiação partidária. Uma que já nasça musculosa, mas sem vícios. Uma que não repita os erros cometidos no passado.

Que encontre novos erros e os enfrente de cabeça erguida. Que não tenha um projeto único de poder e de tomada da máquina pública do Estado. Que se preocupe menos com a reeleição e mais em combater as desigualdes sociais que vão transformando, diariamente, mais pobres em miseráveis e mais ricos em milionários. Que tenha moral e coragem para lidar de frente com a violência e assumir e derrotar o terrorismo verde-e-amarelo. Que, principalmente, não represente apenas o pensamento da elite paulistana – intelectual ou sindical - mas entenda o tamanho da federação, suas diferenças, suas contingências, seus nós.

Este partido político não existe. Não ainda. Quando fundado, o PSDB reunia 8 senadores e 40 deputados. Não é impossível, acreditem, encontrar 50 parlamentares éticos, cujos nomes não aparecerão na lista do mensalão, indignados com a sujeirada que gruda em todo o Congresso Nacional. Uma faxina geral, que valorize novamente a idéia da democracia representativa, começa com esta gente vestindo a camisa de um mesmo time. Eles precisam de um nome, uma bandeira, um slogan e uma certeza apenas: a de que os fins não justificam os meios. Ou a política de nossos dias, por si só, exclui esta definição?

terça-feira, julho 26, 2005

Estranhas Prioridades – o Retrocesso da Imprensa

Você quer saber mais sobre a Martha Stewart ou sobre o genocídio de Darfur? Em sua coluna de hoje no The New York Times, Nicholas Kristof dá um puxão de orelhas na cobertura que a imprensa norte-americana não tem feito do desastre no Sudão e da tragédia de Darfur. Mais: diz que se pode criticar a administração republicana por sua passividade quanto à ajuda humanitária aos africanos, mas Washington também tem munição de sobra para esculhambar com a imprensa norte-americana, que se mantém tão omissa quanto o governo Bush ao tratar do tema.

Para se ter uma idéia, apenas 18 minutos sobre Darfur foram mostrados na ABC News (todas reportagens de Peter Jennings) e outros míseros 5 na NBC em 2004. Já a CBS dedicou 3 minutos a Darfur contra 130 ao caso Martha Stewart no mesmo período. Na conta de Kristof, os canais de tevê aberta dos Estados Unidos dedicaram, em média, um minuto para cada 100 mil mortes no país africano.

Ele vai além: a cobertura do genocídio de Darfur foi pior do que a do massacre turco contra os armênios em 1912. Um retrocesso que passa por uma desculpa conhecida da imprensa brasileira: a de que é muito caro manter um correspondente no Sudão. Kristof é irônico: ‘se ao menos o julgamento de Michael Jackson tivesse acontecido em Darfur!”.

Em tempo - a coluna pode ser lida, no original, para leitores cadastrados no NYT, em http://www.nytimes.com/2005/07/26/opinion/