sexta-feira, março 27, 2009

ENTREVISTA/Drew Barrymore & Scarlett Johanson

A Contigo! desta semana publicou a entrevista que fiz com Drew Barrymore e Scarlett Johansson por conta de Ele Não Está Tão A Fim de Você, o filme inspirado no livro de mesmo título, por sua vez parido em um episódio de Sex & The City. Impressionante o quanto Carrie, Samantha, Miranda e a chatinha da Charlotte rendem para a cultura pop americana. Ele Não Está... tem estrelas de verdade no elenco - Ben Affleck, Jennifer Aniston - mas parece escola de samba com mais integrantes do que o recomendado: não evolui. A entrevista, fruto de uma disputada coletiva de imprensa, na íntegra, tá aqui:

Drew & Scarlett

Regras do amor

Drew Barrymore e Scarlett Johansson vivem momentos diferentes, apesar de estrelarem o mesmo filme, a comédia romântica Ele Não Está Tão a Fim de Você

Por Eduardo Graça, de Los Angeles

Drew Barrymore, 34 anos, e Scarlett Johansson, 24, vivem momentos diferentes, apesar de estrelarem o mesmo filme, a comédia romântica Ele Não Está Tão a Fim de Você. Drew já teve dois casamentos relâmpago e, depois de quase cinco anos com o brasileiro Fabrizio Moretti, 28, da banda The Strokes, prefere namorar. Scarlett, por sua vez, casou com o ator Ryan Reynolds, 32, em setembro. Contigo! encontrou a dupla numa divertida coletiva em Los Angeles para falar sobre namoro e amor.

- As meninas do filme parecem ser especialmente doces e agradáveis. O que tem de marmanjo dizendo que ‘elas é que não estão muito afim deles’ não está no gibi (risos). Aonde vocês diriam que os meninos das grandes cidades deveriam ir para encontrar mulheres tão interessantes quanto suas Mary e Anna?
- Drew: “Bem eu estou sempre dando pinta em shows de bandas de indie rock. Mas esta sou eu, né? Não sei se é o melhor cenário para se encontrar mulheres interessantes!
- Scarlett: “Huuum...eu não tenho, francamente, a mais vaga idéia. Nunca saí por aí atrás de meninas. Huuum...supermercados, como o meu personagem? (risos). Ah, não sei mesmo, gente.

- Você é uma das produtoras do filme, e no entanto faz um dos menores papéis no filme...
- Drew: É engraçado, eu me identifiquei imediatamente com a Mary. Estava no meio das filmagens de Grey Gardens e eu vi todo o elenco sensacional que amealhamos e me deu uma vontade de dar um passo para trás e admirá-los. Especialmente gosto do fato de o meu personagem ser aquele que luta com a tecnologia, tão presente nos relacionamentos amorosos de nossos tempos. Foi como um casamento, ela e a Drew, sabe?

- Uma das melhores cenas do filme é justamente aquela em que Mary fala deste momento em que todos parecem interessados em namorar à distância, via internet ou celular...
- Drew: Que ótimo que você achou isso! Eu escrevi aquela cena juntamente com os roteiristas. Queria expressar o quão difícil é responder às mensagens imediatamente, afinal você anda com esta coisa no seu bolso agora, que todos os pretendentes te encontram a qualquer hora. Nenhum cara me liga, mais! É só mensagem de texto. (risos). É difícil mesmo – facebook, myspace, internet, celular. É um jogo todo novo. E temos de estar up to date.

- Como foi manter uma certa doçura e apostar na capacidade de perdão da audiência para o seu personagem, que, afinal, sai com um homem casado?
- Scarlett: Apesar de saber que alguém, no caso o personagem da Jennifer (Connely), estava sendo ferida no processo, acho que Anna estabeleceu uma conexão real com o Ben. Ela não estava querendo roubar um homem casado, nem ele disposto a uma aventura extra-marital. É como a Mary diz: às vezes isso acontece e você não quer perder o bonde, aquele homem pode ser o futuro pai dos seus filhos com quem você vai passar o restante da vida. E os dois sentem isso no filme! Mas, claro, as fraquezas dos dois também são expostas claramente. Mas acho que a falta de malícia nos dois é justamente o que faz com que as pessoas não os odeiem. E estas situações acontecem na vida, né?

- No filme, a personagem da Jennifer Aniston tem uma enorme vontade de se casar mas descobre, observando a vida de suas irmãs, que vive uma relação saudável com seu namorado. E que casar é apenas um detalhe. O que você, que acabou de se casar, pode trazer para esta discussão?
- Scarlett: Não tenho perspectiva sobre isso de fato. Talvez eu possa te responder em 25 anos, claro! (risos).

- O filme trata de regras e exceções nos relacionamentos amorosos. Você acha que sua vida amorosa está mais perto das regras estabelecidas no filme ou das exceções?
- Drew: Ah, meu Deus, mas esta tinha que ser pra mim, né? (risos). Acho que não existem regras no jogo amoroso. Cada caso é um caso, mas chega um momento na vida da mulher em que ela se recusa a aceitar menos do que ela merece. Seu comportamento muda depois de bater com a cabeça tantas vezes no mesmo muro (risos). Você finalmente diz – ah, agora entendi! (risos). Então, diria que a exceção, no amor, é aquela chance infinitamente mínima, e ela existe, mas, em geral, as pessoas, e não só os homens, repetem um certo padrão, se comportam de modo mais previsível e você precisa ver o que funciona para cada um. Parece clichê, mas há uma razão para o clichê: descubra como você quer ser tratada e trate-o da mesma maneira. Este já é um ótimo começo.

quarta-feira, março 25, 2009

Poesia Aqui, Agora

Acabei de descobrir:


(Abrigo)

Há uma casa,
como casca,
crosta presa
nas costas.
Cicatriz de um
ninho quente,
vermelho de
fogão de lenha,
infância
onde o homem
já não cabe.

Há uma casa
branca corno
a cal, vazia,
imaterial,
que flutua
no espaço,
onde o corpo
busca guarida
quando a vida
já perdeu
o seu sal.

De: GALVÃO, Donizete. In: Traçados diversos. Uma antologia da poesia contemporânea. Org. por Adilson Miguel. São Paulo: Scipione, 2009.

segunda-feira, março 23, 2009

De Volta (Gran Torino e a Violência Made in USA)

As andorinhas voltaram, e eu também voltei. A primavera chegou, o frio diminuiu e já não estou mais no Rio. Mãos à obra então, que este blog esteve às moscas enquanto eu via amigos, família e Brasil.

Neste fim de semana o
Valor publicou texto meu sobre o aumento da violência urbana dos EUA por conta da recessão. Parti do bom filme do direitão Clint Eastwood completamente ignorado pela Academia de Hollywood, Gran Torino, e cheguei a este retrato da violência made in U.S.A., incluindo as gangues que já atuam no meio das comunidades brasileiras por aqui:

Todo dia é um dia de fúria
Por Eduardo Graça, para o Valor, de Nova Iorque
20/03/2009


Em cartaz nos cinemas brasileiros, "Gran Torino" conta a história de um veterano da guerra da Coreia que se transforma, muito a contragosto, em defensor-mor de uma comunidade asiática refém de uma das muitas gangues étnicas em atividade nos Estados Unidos. O filme, dirigido e protagonizado por Clint Eastwood, foi um sucesso de bilheteria em um país que acaba de chegar, de acordo com o Centro Nacional de Inteligência de Gangues do Departamento de Justiça, ao marco de 1 milhão de integrantes de organizações criminosas.

Eastwood filmou "Gran Torino" no coração do estado do Michigan, um dos mais atingidos pela crise econômica. No filme, seu Walt Kowalski vê o antigo bairro de classe média baixa de Detroit, onde vive há décadas, transformar-se em área residencial preferencial dos hmong, grupo étnico que lutou ao lado dos Estados Unidos contra os comunistas no Vietnã e no Camboja e garantiu guarida em solo americano depois da derrota militar nos anos 1970. Os imigrantes, que pagam aluguéis baixos em uma área afetada duramente pela recessão, são o alvo preferencial de uma gangue que age na região. No momento crucial do filme, o moderno caubói vivido por Eastwood decide enfrentar os delinquentes sozinho, com resultados trágicos. Fica difícil não pensar na periferia paulistana ou na zona norte do Rio.

Para o professor David M. Kennedy, um dos maiores especialistas em violência urbana dos Estados Unidos, ainda é cedo para falar de um "efeito Gran Torino" (o título do filme refere-se ao carro produzido pela Ford nos anos 1970) nos centros urbanos americanos. "É fato que a violência aumenta em períodos de crise econômica, mas, aqui nos Estados Unidos, não significativamente. Os principais fatores de aumento da violência são as epidemias de droga como as que tivemos nos anos 1970, com a heroína, e na virada dos 80 para os 90, com a cocaína e o crack. Não creio que uma recessão prolongada possa levar a uma explosão de violência urbana no país", diz Kennedy.

De acordo com o FBI, 80% dos crimes registrados hoje nas cidades americanas são cometidos por integrantes de gangues espalhadas por todos os estados. Em estudo realizado pelo órgão e obtido pelo jornal "USA Today" no fim de janeiro, as gangues já se transformaram nas maiores distribuidoras de drogas ilícitas no país, em competição direta com os grandes cartéis mexicanos. Em quatro anos, o crime organizado teria amealhado 200 mil novos integrantes.

A Midwest Gang Investigators Association, especializada na monitoração de grupos de criminosos em regiões como a Detroit de Walt Kowalski, acredita, porém, que o número seja ainda maior, em uma expansão crescente na última década. Detalhe: do pouco mais de 1 milhão de integrantes das gangues, de acordo com o FBI, apenas 147 mil estariam presos. "A maioria das regiões dos Estados Unidos vai experimentar um aumento na atividade de gangues organizadas de criminosos", prevê o relatório.

Até mesmo gangues brasileiras começam a aparecer no noticiário da Costa Leste. Em dezembro, a polícia de Framingham, em Massachusetts, um dos centros da colônia brasileira na Nova Inglaterra, informou que uma das gangues ativas na cidade era formada por pelo menos 40 brasileiros e descendentes de brasileiros. No total, nove gangues atuariam na cidade. O trabalho da polícia local tem focado na prevenção, investindo em inteligência, para evitar o recrutamento de novos membros, atuando especialmente em escolas e identificando jovens que têm irmãos, primos ou vizinhos associados a grupos de infratores. A maior das gangues locais, a Kendall Street Thugs, contaria com 56 integrantes, se concentraria no tráfico de drogas e já teve a ousadia de abrir perfis no Myspace, um dos sites de comunidade social virtual mais importantes.

Com o aparecimento de um bando brasileiro, a polícia de Framingham abriu seleção para a contratação de dois policiais fluentes em português. Os dois americanos, de origem brasileira, já estariam completando os estudos na Academia de Polícia para começar a trabalhar com a comunidade.

"O que as pessoas se perguntam quando veem esses números é: estamos condenados a entrar em uma era de problemas sérios relacionados à violência urbana? E eu digo e repito: não creio. A mitologia aqui é maior do que a real organização. É impensável, ainda, imaginar gangues binacionais que enviem para os Estados Unidos bandidos armados e treinados por organizações criminosas que usem o mesmo nome em outros países do continente, como El Salvador ou mesmo Brasil. Até mesmo se pensarmos historicamente, os anos 1930, no auge da Grande Depressão, apresentaram taxas baixíssimas de criminalidade. Ao contrário, na década anterior, em que vivemos um boom econômico, crime e violência estavam em alta", diz Kennedy.

Uma diferença importante entre as duas décadas foi a proibição de venda de bebida alcoólica durante os pouco violentos, mas dificílimos, anos da Grande Depressão. "Mas, veja bem, não faço uma conexão direta entre droga e violência e sim entre mercado de drogas ilegais e criminalidade. E nas últimas décadas o tremendo investimento em inteligência, controle de crimes e fortalecimento das forças policiais nos Estados Unidos impediu explosões de violência e possibilitou índices recordes de civilidade em metrópoles como Nova York e Boston", explica Kennedy.

Kennedy diz ainda que não acredita na descriminação de drogas consideradas menos danosas, como a maconha, como estratégia para redução de criminalidade em tempos de crise nos grandes centros urbanos dos Estados Unidos, defendida recentemente pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre outros. "Antes de mais nada, é preciso deixar claro que esta, por aqui, é uma discussão abstrata. Não há a menor possibilidade de descriminação de drogas nos Estados Unidos de hoje. Mesmo que houvesse, não acredito ser esse o caminho para a redução da violência urbana. Haveria uma diminuição de atividade de gangues, mas os danos em nossas comunidades seriam intensos também. É só observar o estrago de uma droga permitida, como a anfetamina", afirma.

Curiosamente, uma das mais recentes campanhas da imprensa liberal americana - o "The New York Times" à frente - é para que a nova dominância democrata reverta no desaparecimento de leis como as aprovadas pelo governo republicano de Nelson Rockefeller nos anos 1970, consideradas pelos conservadores um marco na transformação urbana de Nova York, então tomada por gangues. A legislação, aprovada em 1973 pôs o consumidor de drogas como maconha, flagrado com mais de 113 gramas, sujeito a até 15 anos de encarceramento. Trinta e cinco anos depois, os Estados Unidos enfrentam um problema complicadíssimo, a superlotação das cadeias, repleta de infratores acusados de cometer pequenos crimes.

Para o professor Kennedy, o Brasil não deve cair na tentação de adotar medidas semelhantes em suas metrópoles. "Nesse caso, os jornais estão certíssimos. E não creio que Rio e São Paulo devam se inspirar em leis draconianas como as de Rockefeller. Os resultados, aqui, não foram dos melhores. Seria como se o Brasil resolvesse pedir conselhos a Elizabeth Taylor para lidar com dependência química", observa Kennedy.