sexta-feira, junho 17, 2005

Do Meu iPod (Adem)




Ele não sai do meu iPod. Já está quase virando obsessão. Não tem nada a ver com o verão que chega sufocante. Também não tem nada a ver com Nova Iorque. Nem com o Brasil. Mas melodias fantásticas e as letras dor-de-cotovelo com uma esperança lá no fundo do baú bem que poderiam entrar na trilha sonora do Delúbiogate. Não acho que muita gente conheça o Adem aí no Brasil. Aqui em Nova Iorque quase ninguém ouviu falar dele. Eu vivo perturbando minha amiga Manoela Zappa para ela ir a um show dele e me contar como é o moço ao vivo e a cores. Profundamente inspirado pelo fantástico Nick Drake – que se matou em 1974 e com quem me reencontrei um belo dia de 2004 via CD de minha amiga Gabriela Máximo – Adem Ilham é o fino do folk inglês. Seu primeiro disco – Homesongs – é saboroso como comida caseira. Em Homesongs ele toca todos os instrumentos, com destaque para uma guitarra acústica absolutamente sedutora e nada entediante. E há a voz. A voz. Cheia de sussurros a falsetos que nos fazem pensar que ainda é possível encontrar algo de novo na música pop. A minha música favorita é These Are Your Friends, em que ele repete o mantra ‘everybody needs some help sometimes’. Dá para ouvi-la no http://2005.sxsw.com/music/showcases/band/20343.html A letra diz: I wish that I'd arrived a little sooner You really should have called we'd have come here right away You tried to help yourself but you got it wrong You've thrown yourself Into the flames 'cause you're covered in cold But these are your friends They give out a nice warm glow You've tried so hard to see for yourself Your perspective is wrong These are your friends Let them come guide you on Listen now - now's the time to listen There're lessons to be learned I've seen this before in my own life You feel covered up, removed from the world around you With all your senses dulled you'd do anything to feel You tried to help yourself, but you got it wrong You've thrown yourself Into the flames 'cause you're covered in cold But these are your friends They give out a nice warm glow What have you done? You're cutting your cord You're floating in space But these are your friends They'll be your star-map home Everybody needs some help sometimes Para quem ficou com vontade de saber mais sobre o moço, Adem tem um site bem legal, lá no http://www.adem.tv/, com um diário online.

quinta-feira, junho 16, 2005

Mais Massacre de Volta Redonda - 1988

O amigo Cristiano Beraldo, colega de classe naquele 1988, lembra outros detalhes do massacre de Volta Redonda, que ele me autorizou a publicar abaixo:

Lendo a coluna, lembrei dessa história como se fosse ontem... e já se passaram 17 anos.
Tinha acabado de subir, junto com a minha mãe, do curso de inglês que fazia na época, o CCAA, na Vila Sta. Cecília. Mais cedo, da janela do curso, presenciei dezenas de carros da PM e do Exército chegando em Volta Redonda.


Pelo que minha mãe conta, meu pai, que também estava dentro da CSN mantendo-a funcionando, tinha ligado para ela e pedido para me buscar porque o clima estava ficando perigoso na cidade. Chegando em casa, ouvi uns estouros e cheguei na janela para ver o que era. Como tinha uma posição privilegiada, morando no bairro Bela Vista, consegui ver o início da confusão, quando o exército atacou a multidão com bombas de gás e tiros para o alto.

A princípio imaginei que os tiros fossem de festim, mas logo percebi que não eram, quando comecei a ver as balas traçantes passando próximas da janela da minha casa. Dava para ver e ouvir o zumbido delas. Logo, várias pessoas se aglomeraram na grade do Laboratório de Pesquisa da CSN, que fica localizado entre o Bela Vista e o Conforto, para ver o que estava acontecendo. E foi essa confusão durante o resto da noite e madrugada.

Pessoas sendo espancadas, carros quebrados e furtados, e outros barbaridades mais. O pior foi quando, em determinado momento, os carros do Exército começaram a entrar na usina. Foi quando começamos a ouvir os tiros ecoando lá de dentro, por toda a noite. Foi uma madrugada de apreensão e preocupação com as pessoas que estavam lá dentro, entre elas o meu pai e o seu.

Ainda teve outro capítulo dessa história no Primeiro de Maio do ano seguinte, com a bomba jogada pelo Comando de Caça aos Comunistas no monumento projetado por Niemeyer aos três operários mortos.

Foi uma época complicada...

Um abraço, cara, foi legal ter lembrado disso tudo...

Cristiano Beraldo

Poesia da Dona Olga

O leitor do site Direto da Redação, Diógenes Pereira de Araújo, se inspirou no “Cadê a Dona Olga do PT?” para compor os seguintes versos:

BANDEIRA VERMELHA!

Bandeira do PT. Inda é vermelha.
Mas agora é vermelha de vergonha.
Em Brasília o PT é qual pamonha, pra não dizer que a ratos se assemelha,

que a sua situação, mais que bisonha,
nos tem feito franzir a sobrancelha
e quanto a olhar, olhar sempre de esguelha.
Pobre trabalhador que já não sonha

que o partido a louvar-se no seu nome
o represente com dignidade
no tocante a eficácia e seriedade.

Pelo menos não é mais zero a fome:
de fato é hoje a fome mais de mil
e há "cositas más"...
Pobre Brasil.

Diógenes Pereira de Araújo

Valeu, Diógenes!

quarta-feira, junho 15, 2005

Mais da Bolívia

A querida Ana Cristina Machado manda mais dois links para se saber mais da Bolívia: http://www.bolivia.com/noticias/AutoNoticias/DetalleNoticia26976.asp, com notícias diárias em espanhol, e o www.planetaportoalegre.net, em que pode se ler uma boa entrevista com Gustavo Torrico, em bom e claro português, com o dirigente do Movimento ao Socialismo (MAS), parceiro do principal líder da oposição, Evo Morales.

Diretinho da Redação (19)


O texto abaixo, mescla de memória e indignação, também pode ser lido no www.diretodaredacao.com, onde estão relatos de outros jornalistas espalhados pelo mundo.

Cadê a Dona Olga do PT?

Sete de Novembro de 1988, uma quarta-feira ensolarada em Volta Redonda, estado do Rio. O presidente é José Sarney. O governador atende pelo nome de Wellington Moreira Franco. Em Brasília, parlamentares, entre eles Luiz Ignácio Lula da Silva, haviam aprovado, um mês antes, uma nova Constituição. Os operários da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) decidem entrar em greve. Querem a implantação do turno de seis horas, a reposição salarial referente a perdas por inúmeros planos econômicos desastrosos e a reintegração de demitidos pela atuação salarial.

Nove de Novembro. Na CSN, ninguém entra, ninguém sai. A esta altura a cidade está profundamente envolvida com a greve. A maioria dos moradores se junta a parentes e amigos nas cada vez mais animadas manifestações, que acontecem na entrada do escritório central da usina, a três quadras de nossa casa. Acredita-se que vivemos em estado democrático. Acabara-se a ditadura militar, desconhecia-se a ditadura burguesa. Meu pai está lá dentro com outros funcionários tentando manter a coqueria funcionando. Liga para casa de quando em quando – estamos falando de priscas eras, antes do celular. Pede para que não arrumemos confusão com o pessoal do exército. Mas que exército?

Poucos minutos depois, soldados de vários quartéis do estado, comandados pelo General José Luís Lopes da Silva, dispersam à bala uma manifestação e invadem a usina a fim de acabar com os piquetes. Funcionários, mulheres e crianças correm desesperados pelas ruas próximas. Homens armados os perseguem. Nossa rua vira um palco de guerra. Minha mãe e minha irmã resolvem abrir a porta de casa e convidar as pessoas a se abrigarem em nossa sala. Quando percebo estamos deitados, estranhos e conhecidos, no chão, em emocionada comunhão, usando o sofá como proteção. Tapamos ouvidos e colocamos as mãos sobre a cabeça com medo de estilhaços.

Um dia depois damos conta do tamanho do massacre. O centro velho da cidade está detruído. Marcas de bala enfeitam os portões das garagens dos vizinhos. Um cinema fôra quebrado a pauladas de cassetete. Muito mais grave – três operários estão mortos. William, 22 anos, com um tiro de metralhadora no pescoço. Valmir, 27, com um tiro de metralhadora nas costas. Carlos, 19, por esmagamento de crânio. Os operários decidem manter a greve, agora com apoio incondincional da traumatizada população. As aulas são suspensas nos colégios e nas universidades da cidade.

23 de novembro de 1988. Um soldado, como nas semanas anteriores, permanece de prontidão na nossa rua, mas desta vez ele resolve montar guarda no gramado em frente à nossa casa. Minha mãe acha que aquilo já é demais. Dona Olga abre a porta e, dedo em riste, tensa como jamais a vi, obriga o soldado a se retirar. Abomina sua truculência e lembra que os tempos são outros, que eles não estão mais no poder, que seus crimes serão apurados, que a casa era dela e que ali ele não pisava mais. Assustado, o soldado bate em retirada.

Algumas horas depois a greve acaba. Os operários conquistam todos os seus direitos. Ao contrário de William, Valmir e Carlos, meu pai volta para casa. Nas eleições municipais que acontecem em meio à ocupação militar de Volta Redonda o PT ganha suas primeiras prefeituras significativas – em São Paulo e em Porto Alegre. Eu guardo para sempre a lição de que democracia é o regime em que se pode botar o dedo na cara de quem representa uma ameaça ao estado de direito.

Ontem, um dos dias mais deprimentes da história da democracia brasileira, aquela imagem voltou a me assombrar. Acompanhei todo o depoimento do deputado Roberto Jefferson na Comissão de Ética do Congresso. Ele deveria encarar seus pares na constrangedora posição de acusado. Não foi o que se viu. Durante mais de seis horas foi dado ao soldado da tropa de choque de Collor de Mello o poder para decidir quem na imprensa é sério e quem não é, quem é honesto e quem é picareta no Congresso Nacional. A confiança era tamanha que ele quis até demitir, de lá mesmo, um ministro de Estado.

Quase no finzinho da maratona, Jefferson foi interpelado por seu colega Chico Alencar. O deputado petista queria saber por que só agora ele denunciara o recebimento de dinheiro ilícito do PT para o financiamento de candidaturas de políticos do PTB, nas eleições municipais de 2004. Jefferson, ator de primeira, não titubeou. E nos lembrou que ‘parceiro ajuda parceiro’. Tinha ficado quieto para proteger o PT, ora essa. “Matei no peito, deputado, matei no peito e agüentei tudo sozinho”. Ao que Alencar retrucou: “O partido que nós queremos construir não precisa disso”. Construir? Pera lá. Mas a esta altura do campeonato?

Em 1988, a bandeira que tremulava mais alto nas manifestações de Volta Redonda era vermelha e tinha uma estrela no centro. Muitos acreditavam que estavam construindo um partido. Muitos vibraram nas ruas da cidade com as vitórias de Luiza Erundina e de Olívio Dutra como se eles, no próximo ano, pudessem em um passe de mágica administrar a cidade dos operários e não São Paulo ou Porto Alegre. Cadê a Dona Olga do PT? Por que será que ninguém se arvora a colocar o dedo na cara de Roberto Jefferson para lembrá-lo que não estamos mais no governo Collor? De que os tempos são outros? De que sua biografia vale ainda menos do que a dos Valdemares, Bispos Rodrigues e Janenes da vida?

Ontem, não havia um líder do governo, um defensor gabaritado, uma voz para lembrar a Jefferson que não poderia haver inquisidor menos qualificado na igrejinha do Congresso. Será que o PT agora é veremelho de vergonha? Será que Waldomiros, Cachoeiras, Adautos, Flamarions, Delúbios e Silvinhos surrupiaram para sempre dos petistas seu amor-próprio, seu necessário orgulho, sua crença de que o PT é, afinal, diferente do fisiologismo que domina o cenário político brasileiro? Ou será que o partido, comandado por uma cúpula deslumbrada e insensata, decidiu entregar de vez os pontos? Dos muitos desserviços que o governo Lula tem prestado ao país, jogar na lama a legenda dos trabalhadores será o pior. Gente, cadê a Dona Olga do PT?

terça-feira, junho 14, 2005

Blogs da Bolívia

Para os que estão acompanhando com atenção o que acontece na Bolívia, há dois blog bem legais. Um, de Jim Schultz, do The Democracy Center, diretamente de Cochabamba, pode ser acessadoo em http://democracyctr.org/blog/. Outro, de Nick Buxton, craque em ativismo politico na Internet, fica no http://www.nickbuxton.info/bolivia/

Como diria meu amigo Ivson, vai lá, mané!

segunda-feira, junho 13, 2005

Viva Yuka!

Do músico Marcelo Yuka, exato, na Folha de S.Paulo de hoje:

A elite está emburrecendo. Não entendeu que, por não ter assumido certos compromissos, não vai viver em paz. Por que ostentar tanto e viver sempre cercado de segurança? O shopping Daslu é um monumento à estupidez da elite. De um país que é campeão em desigualdade social. Que só vira brasileiro na Copa. Há uma elite que ainda é traumatizada por ter perdido a corte e precisa de similaridade com um foco internacional.O que temos como identidade são as manifestações populares, mas, mesmo quando se vê isso, é conseqüência de uma tendência internacional. Um país que não se percebe unido não respeita suas diferenças.

A entrevista completa, dada ao repórter Igor Ribeiro, está lá em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/folhatee/fm1306200504.htm

domingo, junho 12, 2005

Do Outro Lado da Fronteira : O Apartheid Boliviano

Especialista em Relações Internacionais, William Powers vive desde 2003 na Bolívia, onde está pesquisando para o lançamento de A Natural Nation, um livro em que trata de ecologia nos trópicos e da exploração de petróleo e ernergia na nação andina. No ano passado seu Blue Clay People, uma narrativa sobre o período em que passou na Libéria trabalhando para uma ONG ligada à Confederação Nacional dos Bispos da Igreja Católica daqui, causou algum burburinho.

Neste fim de semana, ele publicou um ensaio no New York Times sobre o que chama de Apartheid Boliviano, entitulado Poor Little Rich Nation. O artigo está dando o que falar aqui nos Estados Unidos. Abaixo vai uma tradução livre feita pelo blogueiro aqui. O negrito é meu. O original, infelizmente apenas em inglês, pode ser lido em http://www.nytimes.com/2005/06/11/opinion/11powers.html.

Pobre Naçãozinha Rica

WILLIAM POWERS
Samaipata, Bolivia

* Powers está parado, como muitos outros motoristas, em Samaipata, na estrada que liga Santa Cruz a Bogotá. Ele conta:

Por três semanas, a Bolívia ficou paralizada por barricadas e protestos. Os manifestantes querem nacionalizar as vastas reservas de gás natural do país, a segunda maior da América do Sul. A British Petroleum acaba de quintuplicar sua estimativa das reservas bolivianas, que devem valer algo próximo a US$ 250 bilhões.

* Dos manifestantes:

Manifestantes? Não, eles são a maioria da população, formada por descendentes de tribos indígeneas, principalmente Aymara e Quechua. Eles querem a saída imediata do FMI e de corporações como a British Gas, a Repsol, da Espanha e a Petrobras, do Brasil, que investiram bilhões de dólares em exploração e extração.

* O que está acontecendo de fato na Bolívia?

Muitos estão dizendo que o que aconteceu nos últimos e memoráveis cinco anos aqui foi uma guerra contra a globalização. De certa maneira, eles estão certos. O Mc Donald’s fechou suas portas. Uma nova taxa sugerida pelo FMI foi derrubada pela pressão popular. E dois presidentes foram retirados do poder – um deles, Gonzalo Sánchez de Lozado, falava Espanhol com um fortíssimo sotaque norte-americano. Mas o que acontece aqui não está relacionado à criação de um mundo utópico, livre dos Wall-Mart da vida. É muito mais uma queda-de-braço entre quem tem mais poder neste país. A maioria indigena ou aqueles ‘de pele menos morena’, europeizados e, em muitos casos, parte de uma elite que estabeleceu sua relação com o mundo através de uma viciada relação de corrupção?

* Da elite boliviana:

Pode-se dizer que a Bolívia se auto-colonizou. Quando o Império Espanhol fechou sua vendinha aqui em 1824, os ‘europeus’ que aqui ficaram aparentemente não perceberam isso. Aliás, só foram começar a se dar conta cinco anas atrás. Mesmo na América Latina, de acordo com o Banco Mundial a região com maior índice de desigualdade social no mundo, a Bolívia é considerada uma das nações mais injustas e corruptas, de acordo com a Transparency International. É também dividida de modo radical em estratos raciais muito bem definidos.

* Do Apartheid Boliviano:

Quase dois-terços dos bolivianos vêm das Terras Altas ou da Amazônia. O país têm a maior proporção de índios no hemisfério. É como se os Estados Unidos tivessem 160 milhões de apaches e iroqueses. O apartheid boliviano é poderoso e continua vigente de forma escandalosa. A exclusão é parte do dia-a-dia de quem vive aqui. A maioria da população é proibida de usar as piscinas dos principais clubes, por exemplo. Nas ‘haciendas’ pouco ou anda tocadas por alguma reforma agrária, eles ainda são os peões. Em La Paz, estava andando na moderna Zona Sul da cidade com Fátima, uma Aymara, quando um boliviano puxou-a bruscamente para fora da calçada. Fátima não ficou chocada com o desrespeito, mas se admirou de que ele se permitiu tocá-la. Em geral, não há sequer contato físico entre as duas ‘razas’.Os estados mais ricos em energia, no lado oriental, na fronteira com o Brasil, querem mais ‘autonomia’, que se traduz na prática apenas por privar a maioria indígena das reservas de óleo e gás.

* O que pode ser feito para se evitar o colapso?

A resposta, é claro, precisa ser dada inicialmente pelos próprios bolivianos. As elites aqui precisam reconhecer de uma vez por todas que os ‘morenos’ e seus organizados movimentos sociais são mais fortes do que qualquer partido político ou presidente, e que já está claro que eles não vão desistir. Qualquer solução real passa por dividir o poder com a maioria – pobre -da população. Para resolver a crise, no entanto, diminuir a exclusão não é suficiente. É preciso prestar bastante atenção na maneira com que o mundo vai se relacionar com a Bolívia, principalmente no que diz respeito à sua economia.

* Uma ‘nova Venezuela’?

Sim, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, estava certa ao apontar esta semana o deficit democrático boliviano. Mas mais do que dar pitos, nós precisamos reconhecer que DEMOCRACIA significa, no mínimo, deixar que a maioria da população decida o que bem se quer fazer com seus recursos naturais. Vamos lembrar aqui que os contratos de exploração com companhias de petróleo de diversos países foram assinadas – como bem lembra Condelezza – por líderes bolivianos corruptos, sem sequer a aprovação do Congresso. Ainda que se prove que a nacionalização do petróleo é uma péssima idéia, os bolivianos precisam decidir por si prórpios.

* Da política externa norte-americana:

Também não podemos esquecer que as nossas próprias idéias para a América do Sul não são lá estas coisas. A Bolívia foi, por excelência, a cobaia em que o FMI treinou sua ‘terapia de choque’ de liberalismo, iniciada em 1985. A receita rendeu milhões de dólares para petromagnatas e barões da soja, mas quase nenhuma geração de emprego e redução nula de desigualdade social. Duas décadas depois a economia boliviana permanece estagnada e metade da população vive com uma renda de menos de US$ 2 ao dia. O mundo deveria contribuir com algo que ajudaria profundamente a dimunição das desigualdades sociais e à busca da democracia por aqui: o perdão da dívida externa para a reconstrução da governabilidade. Hoje, a dívida externa da Bolívia representa 82% do PIB, corroendo 40% dos gastos a cada ano. Números que se traduzem em mais desordem e miséria.

* Tiananmen do outro lado do Mato Grosso:

Um jovem Quechua, braços cruzados, sentado em frente ao caminhão que tentava inutilmente furar o bloqueio de pessoas em Samaipata, na estrada que vem de Santa Cruz, lembrou-me das imagens da Praça Tiananmen, na China. Ele me disse: "Nossas culturas – quechua, aymara - têm sido bloqueadas por 500 anos. Esta é nossa única voz".