Colaboradora assídua deste blog, Olga de Mello viu, gostou e escreveu no ótimo Arenas Cariocas mais um artigo sobre Tropa de Elite, em que pergunta: por que o espectador aplaude o extermínio de bandidos?
Elitismo no cinema, por Olga de Mello
O mais incômodo em "Tropa de Elite" é ouvir aplausos ao fim da sessão. O filme é bom, bem feito, atores em excelente forma, a ponto de Wagner Moura não se destacar dos coadjuvantes. Talvez o destaque fique para Milhem Cortaz no papel do Capitão Fábio, corrupto até o fundo da alma. Cortaz lembra Nuno Leal Maia fazendo aqueles tipos brutos. A violência grassa solta, torturas, execuções perpetradas tanto por policiais quanto por bandidos.E assina embaixo do discurso que só a classe média faz passeata pela paz, enquanto compra drogas e financia o tráfico, enquanto existem diversos estudos que afirmam que algo em torno de 40% da droga ficam atualmente nos morros, para abastecer moradores que são dependentes. Não que isso justifique a utilização da droga pelo asfalto, porém é um dado.Por que o espectador aplaude o extermínio dos bandidos? Porque onde o Estado não se faz presente, a barbárie impera, claro. O Estado omisso leva ao banditismo generalizado. Ou são eles ou somos nós, pensa quem está no foco da violência.
Nós, Zona Sul, brancos, do asfalto, estamos ainda a anos luz de distância do que sofre a classe média na Zona Norte e subúrbios. Mas corremos riscos. É fácil apontar a existência dessa violência e pregar a eliminação dela, pura e simplesmente. Jogar napalm nas favelas, mas tirando, naturalmente, a família da nossa empregada, é uma das soluções que já ouvi proferidas em alto e bom som, numa conversa com desconhecidos no Aeroporto do Galeão. Tive que me afastar, porque esse tipo de argumento nem merece resposta.
O filme é bom, repito. Vale a pena ser visto como cinema. A realidade é dura e eu jamais aplaudirei corrupção ou assassinato em massa, mesmo podendo ser morta pelo bandido ou pela bala perdida da PM.
Os impostos não deveriam pagar o salário de pistoleiros. O filme mostra um Bope violentíssimo, justiceiro, com total desprezo pelo ser humano. Quem não vê isso na criação de José Padilha e Rodrigo Pimentel só quer enxergar um lado da história e aplaudir atitudes simplistas e criminosas que jamais serão uma solução para a violência urbana.
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