quinta-feira, setembro 15, 2005

Diretinho da Redação (29)

O texto abaixo já está no site Direto da Redação


Neguinho é f...

Neguinho é f... A contrapartida americana aos que não conseguem nem ouvir falar em ‘reserva de quotas’ para negros nas universidades brasileiras se mexeu com desenvoltura esta semana. Analistas e intelectuais conservadores saíram da toca em que haviam se metido desde a primeira semana de setembro para dizer que a ‘miséria escancarada’ de Nova Orleans não representa toda a nação. Que a pobreza americana é social e não racial. Um trelelê bem conhecido e repleto de intenções duvidosas, que pode ser derrubado facilmente com dados concretos.

A partir de fontes tão diversas quanto a Drug Police Alliance, o New England Journal of Medicine e os jornais Village Voice, Philadelphia Inquirer e Washington Post, o texto desta semana vai em tópicos mesmo, a fim de escancarar de forma direta e crua a cara - negra - da miséria americana:

• Negros norte-americanos na cadeia: cerca de 1 milhão de pessoas (quase todas perdem permanentemente o direito ao voto), ou 12% dos negros entre 20 e 34 anos.
• Negros norte-americanos desempregados: 1,4 milhão (ou 13% dos negros adultos). Em Nova Iorque, 50% dos negros não trabalham.
• Tráfico: 13% dos usuários de drogas são negros, mas 35% dos presos são afro-americanos, sendo que 74% dos presos por uso de drogas são negros.
• Apesar do uso de drogas por grávidas entre negras e brancas ser o mesmo, o Serviço Social reporta 10 vezes mais mulheres afro-americanas do que caucasianas a órgãos de proteção da criança.
• A expectativa de vida no Harlem é menor do que a de Bangladesh. As causas? Exposição demasiada ao estresse, traduzidas em problemas cardíacos, câncer e péssimo tratamento médico (descaso)
• Nos últimos 25 anos, um terço dos hospitais públicos norte-americanos fechou as portas.
• A família-padrão negra nos Estados Unidos recebe salários que equivalem a 60% da família padrão caucasiana. Esta mesma família concentra apenas 18% da riqueza arregimentada pela caucasiana.
• Os negros são 25% dos 37 milhões de pobres reconhecidos pelo governo americano. Para ilustrar: 20% são ‘latinos’.
• Desde 1968 o salário-mínimo nos Estados Unidos caiu, em valores reais, mais de 35%.
• Apesar de representarem 12% da população americana, 37% dos portadores de vírus da AIDS são negros. O grupo que vem aumentando mais rapidamente a infecção pelo HIV é o de mulheres negras.

E há muito mais. Mas então, mais desesperado do que combalido, peço a licença para pôr o volume no máximo com a Elza Soares berrando, com toda lucidez, que ‘a carne mais barata do mercado é a carne negra’. Aqui e acolá. Neguinho é f...

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